A Amnistia Internacional (AI) denunciou esta segunda-feira a exploração «alarmante» dos imigrantes no Qatar. Num relatório de 169 páginas, a AI afirma que alguns trabalhadores são tratados como «animais», uma palavra que os investigadores da organização ouviram do diretor de uma construtora para falar sobre os funcionários.

No documento, a organização de defesa dos direitos humanos pede à FIFA que pressione o rico emirado para que melhore as condições de trabalho dos estrangeiros, a maioria do sudeste asiático.

O Qatar anunciou que incluirá as conclusões da AI na investigação que solicitou a um escritório de advogados para esclarecer as acusações de exploração dos imigrantes.

«As nossas conclusões demonstram o nível alarmante de exploração no setor da construção no Qatar», declarou o secretário-geral da Amnistia, Salil Shetty. «Não existe desculpa para que tantos trabalhadores imigrantes sejam explorados sem piedade e se vejam privados dos salários num dos países mais ricos do mundo».

O relatório afirma que a exploração dos operários «em alguns casos se assemelha ao trabalho escravo». A Amnistia denuncia o «não pagamento de salários, condições de trabalho duras e perigosas e condições de alojamento escandalosas», às vezes sem ar acondicionado num país especialmente quente.

A organização destaca que «dezenas» de trabalhadores estrangeiros foram bloqueados durante meses por seus empregadores no Qatar, o único país do Golfo, ao lado da Arábia Saudita, que impõe aos imigrantes a necessidade de permissão de saída.

Shetty citou o exemplo de um grupo de 70 operários do Nepal, Sri Lanka e de outras nacionalidades, com os quais se encontrou na sexta-feira. «Trabalham para uma empresa que constrói torres de muito prestígio em Doha. Não recebem pagamento há nove ou dez meses, não têm dinheiro nem para comer», disse.

O relatório também cita um diretor de um grande hospital de Doha, que revelou que «mais de mil pessoas foram internadas em 2012 na unidade de traumatologia por quedas no trabalho». Destes pacientes, 10% ficaram com algum tipo de invalidez, e «a taxa de mortalidade foi significativa», afirma o documento.

«A FIFA tem o dever de enviar uma mensagem forte, segundo a qual não vai tolerar violações dos direitos humanos nas obras vinculadas ao Mundial de futebol», afirmou Shetty ao apresentar o relatório.

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, destacou, após uma visita em 9 de novembro a Doha, que as autoridades do país prometeram que «as leis do trabalho serão revistas».

Shetty afirmou que a organização se reuniu com autoridades do Qatar «que se disseram dispostos a reconhecer que existe um problema» e estão prontas para «encontrar soluções».

O relatório da AI não confirma, no entanto, as informações do jornal britânico The Guardian de que 44 operários morreram entre junho e agosto nas obras do Mundial, o que é negado pelas autoridades do país.

Entretanto, a FIFA reagiu a este relatório em comunicado: «A FIFA já esclareceu várias vezes no passado que tem todo o respeito pelos direitos humanos e que aplica essas normas de comportamento em todas as suas atividades. A FIFA também espera que quem organiza os torneios e as competições também tenham o maior respeito pelos direitos humanos», lê-se no documento.