Um trabalho no continente foi sempre algo que convenceu pouca gente no futebol inglês. Bobby Robson foi uma das raras excepções. Esta semana enquanto assistia ao documentário «Bobby Robson-More Than a Manager» recordei o tempo em que o conheci em Newcastle, em 2002.

Após um trabalho incrível na Holanda, em Portugal e em Espanha, Robson estava a ter um desempenho notável nos magpies. Em 1999 tinha recebido a equipa em lugares de aflição na liga inglesa, agora estava a disputar a Liga dos Campeões.

Naquele que foi o meu primeiro jogo em Inglaterra, em St James Park, tinha à minha frente a Juventus de Lippi com Del Piero, Nedved, Buffon, Thuram, entre outros. Os campeões de Itália que no fim da temporada seriam coroados reis da Europa na final ganha nos penáltis frente ao AC Milan.

A noite de Newcastle sorriu a Robson após um frango de Buffon que encaminhou para a baliza um remate tosco de Griffin. A experiência continental permitiu seguramente ao aventureiro Bobby Robson preparar e tomar as melhores decisões diante do colosso italiano.

Estava na cidade para entrevistar Bobby Robson a propósito de uma reportagem para a TVI sobre os 30 anos de Luís Figo. Aguardei pelo fim da conferência de imprensa, apresentei-me e disse que tinha uma entrevista agendada com ele para o dia seguinte. Recebi um sorriso enorme de Robson e a confirmação da gravação para as 10 da manhã do dia seguinte.

Em Inglaterra procurava o máximo de pessoas possível que tivessem feito parte ou participado da carreira de Luís Figo. Tinha na agenda Carlos Queiroz, assistente de Alex Ferguson no Manchester United, Ricardo, guarda-redes dos red devils que nos tempos do Valladolid tinha apanhado o antigo jogador de Barcelona e Real Madrid e alguém que eu tinha visto jogar na noite anterior em St. James Park.

Tinha levado uma nega do Newcastle para entrevistar Alan Shearer, o capitão da seleção de Inglaterra no Euro 2000. A ligação do avançado com Luís Figo era o jogo que Portugal venceu por 3-2 naquele Europeu. Figo deu inicio à reviravolta depois dos ingleses estarem a vencer por 2-0 aos 18 minutos.

No final da entrevista com Bobby Robson falei-lhe da possibilidade de registar a opinião de Shearer e da nega que tinha recebido. Robson entendeu que foi um erro do Newcastle e disse-me para estar no dia seguinte em St James Park, pelas 10 da manhã, que Alan Shearer daria a entrevista. O técnico chamou a diretora de comunicação do clube e pediu para informar Shearer. À frente de toda a gente defendeu a sua decisão, explicando que o seu jogador também gostaria de ter um depoimento de Luís Figo quando alguém fizesse um documentário ou uma reportagem sobre si.

No dia a seguir à hora combinada, Alan shearer estava em St James para a entrevista.

«Nota artística» é um artigo de opinião de Henrique Mateus, jornalista da TVI, que escreve neste espaço às quarta-feiras de três em três semanas.