«Se eu me chamasse Marrekovic» é uma rubrica do programa televisivo de desporto da TVI24 «Maisfutebol» (sextas-feiras, a partir das 22:00), da autoria de Luís Mateus, e que o próprio transpõe agora para o espaço digital. Criada a partir da frase original do futebolista Tozé Marreco, pretende destacar jovens jogadores portugueses em bom momento e a merecer maior atenção.

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Durante muitos anos, desesperou-se por um ponta de lança que encaixasse no carrossel habitual da Seleção Nacional. A ladaínha dos últimos 30 metros foi repetida até à exaustão, e só um ou outro fenómeno de circunstância disfarçou essa insuficiência na nossa cadeia de produção. É certo que dos Oitenta para cá houve Jordão, Fernando Gomes, Rui Águas, Pauleta e Nuno Gomes, mas pouco mais. Ser jovem português candidato a goleador em Portugal até merecia ser alvo de recalcamento. É que não havia quem neles apostasse.

Hoje, André Silva é titular da equipa nacional, ao lado de Cristiano Ronaldo, e Gonçalo Paciência, que chegou a prometer muito, procura recuperar o golo em Setúbal, tal como Nélson Oliveira ressurge em Norwich. Há as promessas de Rui Pedro, e a expetativa sobre José Gomes. E, já agora, bons sinais de um tal de Alexandre Guedes, avançado-centro do Desportivo das Aves, de 23 anos.

Nove típico, formou-se no Sporting, ainda jogou pela equipa B, mas saiu para o Réus. Não foi feliz. O clube espanhol entrou em insolvência, e assinou pelos avenses há três temporadas. Reencontrou-se com o golo em 2015/16, fez 13. Repetiu a façanha na época transacta, com outros tantos, fundamentais para o regresso à Liga. Nas duas temporadas, nove assistências. Nas seleções, apresenta 11 tentos em 31 jogos desde os sub-15 aos sub-20. Há, percebe-se, «escola» e golo em Guedes.

1,85 metros, e bom cabeceador, como se viu nos Barreiros no fim de semana. Um pé direito que privilegia sobre o esquerdo, mas que também usa com frequência e naturalidade. Além de tudo isto, força física, frieza na finalização e boa «presença» em campo.

O jovem avançado de 23 anos foi formado no Sporting.

Até ao fecho do mercado, o Desportivo das Aves não resistiu às «sobras» dos grandes, neste caso do Benfica. Chegaram Salvador Agra, Derley e Arango, e os 26 golos em duas temporadas não lhe aguentaram sobre os ombros o estatuto de titular. Além de ter de se adaptar a um escalão diferente, com um estilo de jogo diferente, e a uma equipa que muito mudou e também mudou de estatuto e filosofia – não é possível acreditar que um candidato à subida jogue da mesma forma do que um conjunto que primeiro, e acima de tudo, não quer descer – o próprio clube que há meses falava de si como o melhor ponta de lança português tapou-lhe o espaço de crescimento. Sim, a 15 de maio, o presidente da SAD Luiz Carlos Andrade garantia que Guedes era melhor do que André Silva.

Se as palavras no futebol português continuam a valer pouco, e não devem ser encaradas com o verdades inexoráveis, a situação de Alexandre Guedes torna-se apenas mais um exemplo dos problemas que as políticas desportivas podem causar em algumas carreiras promissoras.

Guedes é hoje suplente de Arango, tal como já foi de Derley, e que se a lógica imperar, a julgar pelas declarações de Luiz Andrade, terão de vir a ser ou serem já melhores que o titular da Seleção Nacional e avançado do AC Milan.

O jovem de 23 anos tem de encarar este desafio como qualquer outro, e da mesma forma que o faz em campo. Com atitude, e presença. As qualidades, essas, parecem estar à vista. Nós por cá vamos continuar atentos.