Dois anos depois o debate em torno da contribuição defensiva de Cristiano Ronaldo volta à baila. Na verdade sempre esteve lá, apenas andava escondido, mas o nível de exigência de uma grande competição teima em destapá-lo.

No Euro2012 muito se falou do assunto, já que três dos quatro golos sofridos pela equipa das quinas surgiram na sequência de cruzamentos do lado direito. Paulo Bento explicou então que «há jogadores que estão mais talhados para desempenhar funções defensivas e outros mais ofensivas». «O que temos feito é tentar arranjar uma estratégia em termos defensivos que faça com que a equipa seja equilibrada e consistente. Não vou individualizar por que é que estamos a sofrer golos», complementou.

Dois anos depois, o jogo com os Estados Unidos mostrou que o problema não está resolvido. Embora a base da equipa pouco tenha mudado, e o treinador seja o mesmo. As subidas pelo flanco do talentoso Fabian Johnson criaram inúmeras dificuldades à equipa das quinas, que mesmo ficando em vantagem no marcador aos cinco minutos nunca conseguiu encontrar o equilíbrio tático, perante a «passadeira» estendida naquele corredor.

«Tivemos dificuldades em controlar o lado direito deles. Tentámos alterar e mesmo assim não conseguimos controlar isso (…) Alterámos ainda na primeira parte, coloquei o Raul Meireles a médio ala esquerdo, em duas linhas de quatro, e mantivemos isso na segunda parte», assumiu Paulo Bento neste domingo, logo na «flash interview» da RTP.

Uma vez mais a Seleção não conseguiu encontrar a fórmula para se equilibrar defensivamente prescindindo do apoio de Cristiano Ronaldo, que raras vezes recuou para lá do meio-campo.

Análise das zonas do campo em que Ronaldo interveio (fonte: squawka.com)

A alternativa passou por fechar o lado esquerdo com um desgastado Meireles, que mal tinha capacidade física para ocupar a sua posição habitual, quanto mais «dividir-se» entre a zona central e a ala.


André Almeida primeiro, e Miguel Veloso depois, deparam-se muitas vezes com dois adversários a cair naquela zona. Até porque Meireles continuava a ter de ir à zona central equilibrar a luta que Moutinho e Veloso (depois William) travavam com Beckerman, Jones e Bradley.

Deixar Cristiano Ronaldo na frente, na perspetiva de explorar o contra-ataque, é uma opção perfeitamente válida. O que custa a entender é que, ao fim de tanto tempo, a Seleção ainda não tenha encontrado a forma de o conseguir sem perder o equilíbrio defensivo.

As limitações físicas do capitão reforçaram as lacunas defensivas, mas também tiveram impacto a nível ofensivo, com a Seleção sempre a resvalar do 4x3x3 para o 4x4x2, com Ronaldo muito próximo do ponta de lança. E com Meireles a fechar o lado esquerdo, Portugal perdeu largura de jogo, pelo menos até Paulo Bento arriscar a entrada de Varela para o lugar do médio do Fenerbahçe.  

«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter