O clássico no Dragão ficou marcado pela evidente superioridade da equipa azul e branca. Agressividade, intensidade, pressão e eficácia foram as armas do Porto. Acresce a qualidade individual, uma boa atitude colectiva e personalidade demonstrada. A vitória surgiu a partir daí.

Ao Sporting faltou quase tudo. Apesar de ser uma equipa junta, raramente se ligou numa jogada e quem vê jogar o adversário, sem pressão sobre o portador da bola, normalmente sofre. Ofensivamente pouco existiu. Para quem precisava de ganhar para aspirar a algo mais, os 3 remates para fora e sem uma defesa de Fabiano, foi balanço muito curto.

Mas o jogo tem, como sempre, protagonistas, vencedores e vencidos.

Lopetegui não é o melhor do mundo porque venceu de forma categórica o seu primeiro clássico, nos quatro que já disputou, mas foi o vencedor nos bancos. Após a derrota na Taça, desta vez o treinador espanhol levou vantagem. Não teve mais uma vez problemas em alterar a equipa e aquilo em que pensou, resultou.

Marco Silva não sabia o que era perder em clássicos e apostou praticamente nos mesmos de quinta-feira passada. Quem está de fora e não sabe o que se passa no dia a dia das equipas, tem por vezes a sensação de estar a ser injusto mas, perante as informações e aquilo que vemos, formamos a nossa opinião. Tanaka poderia ter jogado e pensei que Mané substituiria Carrillo mas nem no banco esteve.

Marco deu novamente a titularidade a Montero, que foi presa demasiado fácil para a defesa portista. Culpa do colombiano? Não, porque a equipa raramente conseguiu dar sequência ao seu jogo de posse e a bola não lhe chegava. Carrillo e Nani voltaram a não revelar capacidade para desequilibrar. A qualidade está lá mas faltou demonstrá-la. A equipa ressente-se quando não tem jogadores para fazer a diferença.



Qualquer que seja o resultado, os líderes são sempre os primeiros responsáveis.

Lopetegui tem vivido essa responsabilidade e vencer era obrigatório para manter viva a luta pelo título. A sua postura no banco, goste-se ou não, é enérgica e vivida com intensidade. A ganhar, não queria que a equipa baixasse e os seus gestos, quando a bola estava junto ao banco, eram evidentes: queria pressão sobre o adversário.

Marco Silva sabia que a derrota tornava o segundo lugar mais difícil e faria ressurgir a luta pelo terceiro. Por isso, a entrada equilibrada em jogo podia ser um bom indicador. Mas durou pouco: o FC Porto rapidamente assumiu o controlo das operações e marcou ainda antes do intervalo.

A minha leitura, de quem assistia pela TV, pedia mudança no Sporting ao intervalo. A resposta imediata era precisa, e vimos exactamente o contrário: o FC Porto entrou mais forte e manteve o domínio. Quando Marco ia agir, depois do sufoco inicial da segunda parte, surgiu o segundo golo. É fácil falar nesta altura, mas a dupla substituição vinha tarde e a derrota não escapava.

Perdeu-se tempo. A equipa não reagiu e o Marco, como líder e primeiro responsável, não fugiu à sua responsabilidade: respondeu como o devia fazer. Não se escondeu nem procurou desculpas: o adversário foi superior.



Jackson
O melhor avançado e o melhor marcador da nossa Liga não marcou desta vez. O que se pede aos avançados são golos. Para Jackson não era dia, mas fez outras coisas com qualidade. Recuperou bolas, baixou no terreno e foi apoio para os médios. Segurou a bola quando foi preciso, tabelou e assistiu com classe em dois golos.

Herrera foi o jogador de equilíbrio da equipa. Marcou o ritmo, pressionou, recuperou bolas e assistiu. Deu sempre uma solução aos colegas e ficou na retina o grande trabalho dentro da area aos 31m. Faltou-lhe o golo.

Evandro foi a surpresa no onze e cumpriu. Lopetegui apostou na qualidade do experiente brasileiro e na sua capacidade para ter a bola. No seu primeiro clássico esteve bem posicionado, ajudando ao equilíbrio e à pressão no meio campo.

Tello foi o homem do jogo. Rematou cinco vezes e fez três golos. Podemos dizer que pareceu fácil pela forma como finalizou, porque tinha apenas Rui Patrício pela frente e era só encostar, mas não. Os lances de golo tiveram todos uma excelente leitura de Tello. Quando Jackson dominou no peito, já Tello arrancava perante uma defesa que estava a ver o gesto técnico do colombiano, no fantástico toque de calcanhar a sair com conta, peso e medida. O primeiro golo aconteceu.

O segundo tem os mesmos jogadores e, mais uma vez, quando Jackson recebeu a bola, já Tello tinha partido. O segundo toque do capitão num passe a rasgar, coloca a bola à sua frente, sem necessidade de tocar, a não ser para rematar para golo.



Por último, o terceiro, a passe de Herrera, com um toque de William pelo meio - Tello mais uma vez só tocou na bola para fazer o remate.

O resto todos vimos. A defesa do Sporting batida, e sem reacção, à espera que Rui Patricio fosse capaz de parar o adversário. Nada disso aconteceu e o mérito é todo de Tello. A sua velocidade e leitura do momento, aliadas à frieza e classe reveladas na altura da finalização, colocam-no na história dos clássicos.

P.S. – Sérgio Conceição está a fazer um <b>grande trabalho no Braga</b>. Vai na 6ª vitória consecutiva, tem o quarto melhor ataque e a terceira melhor defesa. Os jogos com FC Porto e Benfica, a seguir, vão ajudar a definir muito da vida de todos.