Os oitavos de final da Taça de Portugal foram disputados esta semana, e mais uma vez, voltou a haver tomba gigantes. O Famalicão foi a Paços de Ferreira vencer por 2-1 e demonstrar, com humildade e qualidade, que é possível as equipas superarem-se e surpreenderem adversários de outro patamar.

Os pequenos por vezes conseguem ser grandes e o Famalicão demonstrou que é possível, como antes, nesta edição da prova, já o tinham feito Varzim, Desp. Aves, Santa Maria e Oriental. Estão de parabéns o Daniel Ramos e todos os jogadores, que represento aqui nas pessoas dos capitães Mércio e Vilaça. Veremos o sorteio e se a possibilidade de continuar a fazer história se mantém. Cá estarei para dar nota disso mesmo.

A história só recorda quem ganha mas, nesta eliminatória, olhando para os resultados das equipas dos escalões secundários que ainda resistiam, e para o que foi dito pelos intervenientes e pelos cronistas, houve incerteza nos resultados e emoção até final. Apesar de derrotadas, as outras equipas ditas mais pequenas, com um bom percurso na competição, voltaram a ser também merecedoras destaque.

Dos jogos todos, apenas vi ao vivo o Belenenses-Freamunde e, pela televisão, o Vizela-Sporting.

Em Belém, vi as dificuldades de uma equipa da primeira Liga perante uma da divisão inferior. Perante a qualidade de jogo do Freamunde e o rendimento apresentado, era merecido ter ido a prolongamento. Isso não aconteceu, mas ficou à vista de todos a postura da equipa e a personalidade que apresentou.

No jogo em Vizela, vi uma equipa do Campeonato Nacional de Seniores (CNS) a jogar sem medo e a discutir o resultado contra um dos grandes do nosso futebol. A diferença era enorme mas acabou não se sentir da forma esperada.

O que fica, e penso que isso se reflectiu um pouco em todos os jogos, é a capacidade das equipas mais pequenas perante adversários mais fortes. E isto também tem a ver com a forma como se trabalha. Sabemos que neste tipo de jogos, as equipas estão motivadas e conseguem transcender-se, mas parece ser de inteira justiça falar do trabalho dos respectivos treinadores.

Sem a visibilidade de outros, Norton de Matos, do Chaves, Emanuel Simões, do Vizela, João Barbosa, do Oriental e Nuno Sousa, do Santa Maria, mostraram o fruto seu trabalho na forma como tornaram complicados os jogos com equipas mais fortes. Sinal que nos escalões inferiores, apesar de menos condições de trabalho, existe capacidade dos treinadores.

Por outro lado uma nota para os jogadores. O que vi no Freamunde e no Vizela foi uma demonstração de valor de vários jogadores. Existe qualidade nas divisões inferiores e isso é também uma oportunidade para as equipas da Primeira Liga: há potenciais reforços nessas equipas.

O João Afonso, que é titular no V. Guimarães, é um bom exemplo: vindo do Benfica Castelo Branco, do CNS, tem vindo a afirmar-se na equipa. É preciso estar atento aos jogos destas divisões e perceber que existe qualidade para outros patamares.

Sporting: imunidade precisa-se, também para o barulho interno

A vida no Sporting não anda fácil. Mais uma vez Bruno de Carvalho disparou sobre tudo e todos, mas com uma mensagem muito clara para Marco Silva e os jogadores. Não sei se o faz internamente, mas a parte visível da sua intervenção é a que é pública.

Os resultados na Liga estão aquém do esperado mas o Sporting é a única equipa portuguesa que se mantém ainda em todas as competições. Pode ser pouco, é certo, para quem assumiu de uma forma clara e objectiva a luta pelo título. Mas convém não deitar tudo a perder.

Estas constantes declarações são tiros nos pés e provocam, a meu ver, mesmo que isso não seja assumido por treinador e jogadores, uma clivagem entre todos.

Já tinha dito neste espaço que assumir o título para esta época era um erro, que colocaria o treinador e a equipa com uma pressão extra. Para quê aumentar a expectativa perante os adeptos quando tanta coisa há para fazer?

Apesar de os adeptos quererem ganhar, eles têm consciência das dificuldades por que o clube passou, e continua a passar. Havia tolerância para se fazer um trabalho de base, de forma a que a equipa se reerguesse e voltasse mais fortes.

O excelente trabalho de Leonardo Jardim superou as expectativas. Para Bruno de Carvalho esse foi o momento: queria mais, e a luta pelo título era o passo seguinte. Saiu Jardim, entrou o Marco, já com este objectivo assumido. Na ideia do presidente, estavam reunidas as condições para atingir o título.

Após todas estas jornadas o Sporting está longe do pretendido. É certo que nada está perdido: o sucesso é muito difícil mas, apesar da distância, não é impossível. Marco tem sido prudente nas declarações públicas, mas imagino o seu sentimento.

Não é fácil ter um líder com a intervenção pública constante de Bruno de Carvalho e, aparentemente, não haver diálogo interno e uma estratégia conjunta. O presidente definiu o seu caminho há muito tempo e este vai para além de treinadores e jogadores.

Não pode deixar o rosto e líder da sua equipa à mercê das suas palavras. Os sócios e adeptos percebem isso. Não me parece o melhor caminho, mas serão os resultados a definir os efeitos da estratégia usada por Bruno de Carvalho.

Marco Silva já percebeu quem tem ao seu lado e não deve ser fácil. Um contrato de quatro anos foi assinado em Junho e apenas passaram seis meses. A sua obrigação é focar-se em si, na equipa, e no que é necessário fazer. Trabalhar para conseguir ter uma equipa imune aos resultados negativos que surjam, ao barulho exterior e, neste caso, também ao barulho interno.

A resposta vem dos resultados. Ganhar é o que se espera.