Existem por todo o mundo, quase sempre incógnitos e longe de protagonismos, seguramente sempre com futebol no seu pensamento. São os meninos que dormem sonhando com futebol, começam o dia comprando jornais e coleccionando cromos, continuam esperando por programas desportivos radiofónicos e televisivos, e nos dias de hoje navegam horas sem fio procurando na rede as intermináveis listas de sites que começam nos jornais ao minuto e terminam no mercado de jogadores.

A estes meninos eu chamo «Putos para Sempre», e para eles o futebol de hoje tem seguramente um lugar muito especial.

Na actualidade, o futebol é radicalmente diferente, e quem não acompanhar a evolução verá como, abrupta ou progressivamente, a factura da desactualização chegará.

Presidentes e treinadores transformam-se em gestores de recursos humanos, e quanto maior o seu nível, maior a sua capacidade de comunicação e aceitação desta interrelação de competências.

Olho para o actual campeão nacional e pergunto «Quem se lembraria a meio de uma época que um craque como André Cruz se encontrava psicologicamente em decadência num clube seundário como o Torino? Quem saberia que um americano como Kirovski era agente livre e chegaria a custo zero? Quem advinhou que na selecção checa havia um tal de Horvath escondido detrás dos Berger, Nedved e companhia?».

Sem possuir qualquer tipo de indício ou confirmação eu arrisco. Foi Carlos Freitas, um desses putos para sempre que bafejado pela sorte, mereceu a confiança de Luís Duque e integra o «staff» de gestão de futebol profissional do Sporting. O Sporting é hoje um clube melhor e mais apto, certamente preparado para fazer face às exigências do mundo economicista em que nos movemos.

O F.C. Porto não dorme. O sucesso de muitos anos e o fracasso da ultima época não desmotivaram um clube que, assentado num regime presidencialista, apresenta capacidade analista e negocial para chegar a jogadores de nível mundial como Alenitchev e Maric. O FC Porto é perspicaz, sabe o que quer, sabe como atingi-lo. O seu plantel é qualitativa e quantativamente rico, o clube estrutura-se e estabiliza-se como os grandes da Europa.

O Benfica tem uma filosofia e creio que é o melhor elogio que lhe posso fazer, quando considero a existência de uma ideia e objectivos - o que de mais importante pode haver num clube. Baixar o nível etário do plantel, apostar em jogadores portugueses de grande projecção como Meira e Carlitos, olhar para o estrangeiro quando o mercado interno não apresenta respostas para as necessidades (Van Hooijdonk). A Álvaro Braga Júnior poderia chamar «Mr. dirigismo» tal a sua experiência e a capacidade e Preud Homme será seguramente um homem capacitado para apresentar ao seu treinador um lote interminável de opções.

O Barça gastou em três dias onze milhões de contos, os cinco grandes de Itália um total de sessenta milhões. Que os nossos Sporting, Porto e Benfica não ganharão nenhuma das duas competições europeias parece-me óbvio, mas que poderemos competir com orgulho e esperança parece-me uma realidade. Parabéns a todos! Com organização tudo é possível...