A uma semana da primeira mão do play-off de apuramento para o Europeu e uma semana depois da confirmação de Fernando Santos no cargo de selecionador, que espaço sobra para os sub-21 portugueses? A pergunta faz mais sentido numa altura em que as mudanças na FPF, e a derrota com a Albânia, relegam para um plano secundário a caminhada cem por cento vitoriosa da equipa de sub-21 no grupo de qualificação.

Na FPF, a começar pelo seu presidente, a mensagem tem sido clara: com ou sem renovação, a prioridade absoluta é a qualificação dos AA para o Euro-2016. Neste sentido, a dupla jornada dos sub-21 com a Holanda, a 9 e 14 de outubro, acaba por surgir, aparentemente, no pior momento, já que o novo selecionador – que na sua primeira pré-convocatória, compreensivelmente, quis cobrir o máximo de opções em relação aos jogadores que atuam no estrangeiro – não terá margem para facilitar nas escolhas definitivas.

Além da sobreposição de datas (a seleção principal joga a 11, com a França e a 14, com a Dinamarca) poderá haver também alguma sobreposição de nomes, já que alguns jogadores da órbita habitual dos sub-21 têm ganho estatuto nas últimas semanas, tornando-se hipóteses fortes para a lista final de Fernando Santos, a ser conhecida nesta sexta-feira: os casos de João Mário, Rúben Vezo, André Gomes e Ivan Cavaleiro além do já «consagrado» William Carvalho, são os exemplos mais óbvios.


No entanto, Rui Jorge, responsável pela equipa de sub-21 que assinou a melhor campanha de apuramento dos últimos 20 anos, garante que pouco ou nada mudou na relação com a equipa principal após a chegada de Fernando Santos. O rumo e a estratégia mantêm-se inalterados, diz: «Poderia ter havido mudanças importantes se tivesse entrado um treinador que não me conhecesse, ou pusesse em causa a minha forma de estar. Mas, neste caso, sei da confiança e do conhecimento que Fernando Santos tem de mim e sabemos quais são as nossas ideias. Isso permite que continue a haver a comunicação aberta que já havia com o Paulo Bento», explica.

Em ocasiões anteriores, o Técnico Nacional sublinhou sempre a ideia que tinha da função da equipa de sub-21, em primeiro lugar como alimentadora da equipa principal. Algo que, diz, não muda com a aproximação de um play-off ou com a perspetiva de uma fase final em junho: «Mesmo sabendo que é uma altura decisiva, continuo a achar que a prioridade do meu trabalho é conseguir que os jogadores estejam aptos para a seleção principal. A partir do momento em que o princípio é esse, estou preparado para tudo», assegura, quando confrontado com a hipótese de a primeira convocatória de Fernando Santos poder retirar aos sub-21 alguns nomes habituais.

Já a possibilidade de os sub-21 serem reforçados, em momentos especiais, com nomes do escalão que habitualmente já entram na órbita da seleção principal – casos de William Carvalho, André Gomes e Rafa por exemplo - merece de Rui Jorge um «sim» condicional: «Se essa hipótese se colocasse sem conflito com as ideias do técnico principal, pelo comportamento que os jogadores sempre tiveram quando atuaram neste escalão, pensaria nisso, sim. Mas seriam casos a analisar individualmente, para perceber até que ponto seria uma decisão benéfica para o jogador e para o grupo. Nomes como William, Rafa, Ivan Cavaleiro cresceram connosco e fizeram vários jogos deste apuramento, não seriam estranhos ao grupo», lembra.

Na sua experiência como jogador, Rui Jorge tem a memória de uma situação semelhante: em 1993, a seleção de sub-21, comandada por Nelo Vingada, assinou também um percurso brilhante, antes de ser reforçada com alguns consagrados, como Figo, Rui Costa, João Pinto e Jorge Costa. Mesmo sendo já nomes habituais na seleção principal, participaram no play-off com a Polónia e, depois, na fase final em Montpellier, onde Portugal garantiu o segundo lugar, atrás da Itália. Na altura, os efeitos foram claramente positivos, mas não há regra geral, garante o técnico: «Todos esses casos têm de ser analisados individualmente, em especial a forma como o jogador reage ao regresso», sublinha.

Posta de parte, para Rui Jorge, está a possibilidade de abordar os jogos da primeira mão (no dia 9) e da segunda (a 14) com grupos distintos, aproveitando uma hipotética flexibilidade na seleção principal, pelo facto de o primeiro jogo, a 11 de novembro, com a França, não ser de qualificação. «Penso que não será o caminho. Estamos a falar de um estágio contínuo, e acredito que toda a gente sairia a perder com isso. Faz sentido que o grupo de trabalho se mantenha para os dois jogos», defende.

Em termos formais, os procedimentos mantém-se inalterados: tal como a seleção principal, os sub-21 têm de proceder a uma pré-convocatória alargada dos jogadores selecionáveis que atuam no estrangeiro, com prazos idênticos. É normal que vários nomes se sobreponham nas duas listas, sempre com a primazia de escolha para o selecionador principal. Já acontecia assim com Paulo Bento, voltou a acontecer nas listas enviadas na semana passada. Depois, as listas finais, a serem conhecidas na sexta-feira, vão refletir o diálogo com Fernando Santos. 

Pela frente estará uma Holanda que, de entre os adversários possíveis no sorteio, fazia claramente papel de convidado indesejável. Mesmo desfalcada pela ausência forçada de Van Ginkel (Portugal também não vai poder contar com Marcos Lopes, lesionado) é o pior adversário possível? Rui Jorge deixa a resposta em aberto: «Em termos de ranking era, claramente. Duas vezes campeã europeia em anos recentes, com uma percentagem enorme de jogadores que atuam regularmente na Liga principal, tem uma equipa naturalmente forte. Se era o pior adversário, nunca saberemos. Eu acho a Sérvia uma equipa extremamente forte, se puder contar com todos os seus valores. Seguramente que seria também um adversário muito complicado», conclui.

Jogadores utilizados pela seleção sub-21 neste apuramento:

Guarda-redes: José Sá e Bruno Varela;

Defesas: João Amorim, Paulo Oliveira, Josué Sá, Luís Martins, Ricardo Esgaio, Tiago Ilori, Raphael Guerreiro, Rúben Vezo, Miguel Rodrigues e Edgar Ié

Médios: William Carvalho, André Gomes, Sérgio Oliveira, Tiago Silva, João Mário, Tozé, Bernardo Silva, Luís Gustavo, Hélder Costa e Rúben Neves
 
Extremos e avançados: Rafa, Ivan Cavaleiro, Betinho, Ricardo Pereira, Bruma, Gonçalo Paciência, Carlos Mané, Marcos Lopes, Iuri Medeiros e Tomané.

A negro, jogadores que já foram chamados à seleção principal.