Sergio Díaz tem 16 anos, marcou quatro golos nos últimos três jogos, leva oito no campeonato paraguaio e, embora ainda precise que seja o pai a levá-lo aos treinos, já é uma das figuras do Cerro Porteno, líder na reta final do Torneio Clausura. É a nova grande promessa do clube e, claro, está já na agenda de muita gente na Europa. O Cerro quer segurá-lo e tenta precaver-se, para evitar dissabores parecidos com os que teve no passado. Com Juan Manuel Iturbe, nomeadamente.

Nascido a 16 de março de 1998, Sergio começou a jogar no Tacuary e mudou-se para o Cerro aos 10 anos. Foi com um grupo de amigos prestar provas, ficou.

E cresceu depressa. Nos sub-15 do Cerro, o talento e a capacidade goleadora do jovem avançado rapidamente chamaram a atenção de Francisco Arce, o ex-internacional paraguaio que treinava a equipa principal.

A referência de Sergio é o argentino Kun Aguero. E faz sentido, diz o seu treinador nos sub-15 do Cerro. «Tem parecenças com o Kun Aguero. É forte, técnico e tem como objetivo principal procurar o golo. Marcou 33 golos em seis meses, coisa que nenhum jogador de Primeira fez», dizia Diego Gavilan em setembro de 2013, quando Arce promoveu Sergio.

Levava 40 golos marcados nesse ano, nas equipas sub-15 e sub-20 do Cerro e na seleção sub-15 do Paraguai. Arce já adivinhava que seria jogador para «queimar etapas».

Sergio em ação nos sub-15 do Cerro:



Estreou-se pela equipa principal do Cerro em junho de 2014, na última jornada do Torneio Apertura. Mas foi com a mudança de treinador, em agosto, que ganhou espaço de vez entre os grandes. O argentino Leo Astrada incluiu-o, para surpresa de muitos, nos escolhidos para o clássico com o Olimpia. E Sergio não falhou, apesar da derrota do Cerro, por 0-1.

«Nunca pensei jogar este jogo, nem como suplente. Na sexta-feira não estava convocado e no sábado chamaram-me, a pedido de Astrada», dizia no final, à rádio 106.9, recorrendo depois a uma expressão do idioma guarani que quer dizer miúdo: «Sou um mita’i, mas sempre fui vivo. Entrei muito confiante e tive o apoio dos meus companheiros.»

Desde então marcou oito golos, quatro dos quais nas últimas três partidas. Tudo está a acontecer muito depressa para Sergio Díaz.



Agora, tem no horizonte a chamada à seleção sub-20, que joga o torneio sul-americano em janeiro. E quer acumular com a presença nos sub-17, que jogam em março o apuramento para o Mundial: «Era uma oportunidade bonita estar nas duas seleções.»

A rápida ascensão de Sergio não mudou apenas a vida do adolescente, mas de toda a família. Uma família numerosa, ele é um de seis irmãos. Em outubro, o pai despediu-se do emprego para passar a acompanhar Sergio a tempo inteiro. «Falei com o meu chefe e disse que me ia embora. Vou dedicar-me a acompanhá-lo mais de perto, serei o motorista dele», dizia Don Ismael Diaz ao jornal Ultima Hora.

Dona Miguela, a mãe, fala de um «menino tranquilo», que interrompeu este ano os estudos, mas quer retomá-los. E conta como a família decidiu fazer do pai motorista privado, porque «era perigoso ele continuar a andar de autocarro.»



Sergio ainda é menor, pelo que não pode ter contrato profissional com o Cerro. Mas o clube já terá blindado o jogador, segundo noticia a imprensa paraguaia. A tentar precaver a repetição do que se passou com Juan Manuel Iturbe, a jovem promessa argentina que acabaria por assinar pelo FC Porto. Iturbe deixou o Cerro e foi para a Argentina, abrindo um litígio com o clube. Esteve impedido de jogar pela FIFA e a situação acabou por resolver-se depois de o FC Porto ter chegado a um acordo com o Cerro.

O jornal D10 evoacava precisamente o exemplo de Iturbe em outurbo, num artigo que dizia como o Cerro já tinha acordo com Sergio Díaz e a sua família, pagando ao jogador um salário ao nível da primeira equipa, com o compromisso de que quando atingir a maioridade assinará então um contrato profissional. 

A equipa técnica do Cerro procura não colocar demasiada pressão sobre o jovem jogador. «Ele tem um potencial incrível, tem um grande futuro, mas é preciso ir pouco a pouco. É um miúdo de 16 anos que ainda vai à escola», dizia Hernan Diaz, adjunto de Astrada, à rádio 1080 AM: «Com a sua frescura, a equipa deu um salto de qualidade. Uma das suas virtudes é que joga como se estivesse a jogar em casa. Vamos ajudá-lo para que cresça dia a dia.»

Mas, de fora, a pressão já é grande. Sergio já entrou no radar dos grandes da Europa, o seu nome já aparece nas listas de jovens promessas. Na mais recente, do site Goal.com, era o jogador mais jovem mencionado. O presidente do Cerro, Juan José Zapag, disse neste sábado à rádio 1.080 AM que há vários clubes europeus interessados no «Kun» Díaz.

«Há quatro clubes grandes da Europa que o querem, mas estamos a segurá-lo. É muito jovem e precisamos que continue a render a alto nível», afirmava, para depois garantir que a intenção é manter o jogador. «Ele vai jogar pelo menos mais dois anos no Cerro.»

Sergio Díaz está rapidamente a ganhar o seu espaço, num clube que se orgulha da formação e tem na equipa mais talento jovem. Como Oscar Romero, médio de 22 anos na rota do At. Madrid mas também do Corinthians, onde já joga o seu irmão gémeo, Angel. No Cerro está também Carlos Gamarra. O nome não é coincidência, é filho do antigo internacional paraguaio que jogou no Benfica. Este Gamarra tem 22 anos e é guarda-redes.

Um dos companheiros de Sergio no ataque do Cerro é Dani Guiza, o veterano avançado espanhol, que rumou ao Paraguai em 2013, depois de ter andado pela Turquia e também pela Malásia. Guiza tem 34 anos, mais do dobro da idade de Sergio Diaz.