Duas ações de Quaresma em jogos de máxima importância reabriram a discussão, que na verdade nunca chegou a estar fechada: por que não joga mais?

Na seleção, saiu do pé direito o cruzamento perfeito para o golo de Cristiano Ronaldo, na Dinamarca.

Esta terça-feira, o extremo portista apanhou uma bola sobre a esquerda, tirou da frente um adversário e rematou forte, para o 2-1 do FC Porto perante o At. Bilbao. Um remate que valeu milhares de euros e provavelmente a qualificação tranquila para os oitavos de final da Champions.

No Dragão, Quaresma esteve 22 minutos em campo (entrou aos 70, para o lugar de Casemiro) e fez exatamente isto:

72: perde a bola de cabeça
74: ganha na esquerda e cruza já para além da linha de fundo
75: golo
77: toca para Brahimi
78: cruzamento-remate da esquerda, a bola sai ao lado
83: corta de cabeça
85: ganha um lance junto à lateral, agora na direita
87: fecha bem à frente de Danilo e alivia uma bola junto à área do FC Porto, evitando um lance que poderia ser de perigo
90: corta um cruzamento da esquerda do At. Bilbao, permitindo que a bola chegue a Fabiano, tranquila
90: faz falta na direita, junto à linha lateral, e envolve-se numa confusão (controlada...) com adversários

Além do golo, Quaresma fez mais um remate e dois bons cortes, muito importantes para a equipa.

Tudo somado, foram 22 minutos equilibrados, a pensar no conjunto e com um lance inteligente que deu golo. Grande parte do mérito naquela ação foi de Brahimi, que percebeu a péssima colocação dos adversários e colocou no extremo português. Mas é evidente que a colocação e força do remate de Quaresma ajudaram muito.

Voltando à pergunta, por que não joga mais este Quaresma?

Creio que a resposta passa pela definição de este. Com o At. Bilbao, Quaresma entrou para explorar o mau flanco direito do adversário. Assim que a missão foi concretizada, entregou-se ao trabalho defensivo. Baixou quando era preciso, ocupou sempre o espaço. Não perdeu uma bola. Equilibrou o FC Porto.

Acontece que este Quaresma não aparece todos os dias.

Em Lille, por exemplo, teve uma entrada muito má nos últimos minutos.

Em Alvalade passou ao lado do jogo e saiu ao intervalo.

Acresce que o FC Porto tem muito bons jogadores nas alas. Brahimi é um espanto. Tello acrescenta qualidade e velocidade. Óliver também pode jogar ali e ainda resta Adrián. Para ser chamado com frequência, Quaresma tem de se tornar confiável, regular. 

Já todos sabemos, Quaresma é um jogador que desequilibra, alguém que possui qualidades invulgares. Mas os treinadores, e as equipas, precisam também do resto. 

Como se viu esta terça-feira, no Dragão, Quaresma também sabe acrescentar equilíbrio à sua equipa. Às vezes isso é tudo o que o treinador deseja. Menos bolas perdidas, menos trivelas. Mais ações defensivas e espaço bem ocupado.

A Quaresma não chega dizer que lhe desagrada o banco. É preciso demonstrar paixão também nas coisas pequenas e pouco entusiasmantes do jogo. Afinal, durante 90 minutos a maior parte do trabalho de um jogador é simplesmente despachar expediente.