Francisco Salgado Zenha diz que o Sporting não está obrigado a vender jogadores, mas vai continuar a fazê-lo, de forma a poder ser mais competitivo fora de portas.

Isto porque o mercado português é muito mais pequeno do que o dos adversários europeus, o que obriga a SAD leonina a encontrar alternativas de gerar receitas, que permitam depois fazer bons investimentos, para poder ganhar em Portugal, e também lá fora.

«Vou dar-lhe um exemplo em números: o Sporting fechou 2023 com cerca de 125 milhões de euros de receitas operacionais sem transações de jogadores, e esteve na Champions League. Um clube no meio da tabela da Liga Inglesa faz duas ou três vezes mais», referiu.

«Para lhe dar outro número: o Sporting faz mais ou menos 20 milhões de euros em bilhética, que inclui também os camarotes, o corporate, enfim, o chamado matchday. Um Ajax, um Rangers ou um Celtic fazem quase 50 milhões. Fazem mais do dobro do Sporting. Portanto, é sempre muito difícil competir. Nós somos uma economia muito mais frágil do que os nossos concorrentes europeus e temos de tomar uma decisão: queremos ser competitivos na Europa e continuar a ir às Ligas dos Campeões ou não queremos? Se queremos, temos de arranjar formas de lá estar e de ser competitivos. Temos de continuar a trabalhar bem o negócio de futebol e continuar a gerar rendimento desportivo e económico com jogadores. E ao mesmo tempo temos de ir melhorando o negócio do entretenimento, para ir mitigando a necessidade de vender jogadores.»

Do discurso do administrador financeiro, de resto, percebeu-se claramente que melhorar o negócio do entretenimento, trazendo mais gente ao estádio e gerando mais receita com o matchday, é claramente uma preocupação do Sporting nesta fase.

Quando questionado, por exemplo, o que é que gostava de dizer se desse uma nova entrevista daqui a um ano, Salgado Zenha aproveitou para voltar ao tema.

«Eu gostava de estar ainda mais satisfeito do que estou hoje, o que significaria que teríamos mais títulos e que estaríamos mais próximos também de dar aos nossos adeptos a tal felicidade. Não só dos resultados desportivos, mas também da experiência de estarmos aqui, neste estádio, cada vez melhor. De cada vez dar mais gozo vir aqui. É isso que eu gostava.»

Como é que se transforma um clube falido num clube campeão?

Nesta entrevista a Pedro Santos Guerreiro, para a rubricas «As pessoas não são números», da TVI, Salgado Zenha aproveitou para recordar o trajeto que a administração teve de percorrer.

«Claramente todos estamos contentes, e o mais importante é que sobretudo os adeptos estejam contentes. É para isso que aqui estamos. Mas, naturalmente, nós também temos de estar satisfeitos com o nosso trabalho e satisfeitos com aquilo que foi o percurso do Sporting ao longo deste tempo.».

Questionado sobre como é que se transforma um clube falido num clube campeão, o administrador financeiro respondeu que «há dois pontos críticos para isso acontecer».

«Primeiro, tivemos de fazer o reset, cortar custos, ser capazes de assumir esse compromisso de que podemos eventualmente ser menos competitivos ao princípio, mas para sermos mais competitivos no futuro», garantiu.

«E depois não nos desviarmos desse nosso caminho, mesmo que haja pedras durante o trajeto. Termos a capacidade de manter essa consistência. E posso dar um exemplo: nós quando entrámos - e sabe-se o contexto de 2018, muitíssimo difícil - fizemos isso mesmo, reduzimos custos e, portanto, tivemos uma fase inicial muito desafiante. Em 2020 tivemos, além disso, um ano muito aquém das expetativas do ponto de vista desportivo. E nem por isso, no final dessa época em que ficámos num quarto lugar, por exemplo, fomos capazes de reduzir orçamento. O que é que aconteceu no ano seguinte? Fomos campeões nacionais de futebol, fomos campeões europeus de hóquei em patins, fomos campeões europeus de futsal, entre outros títulos importantes que tivemos.»