Quando na próxima quarta-feira (19h) Portugal e Chile se enfrentarem nas meias-finais da Taça das Confederações Fernando Santos e Juan Manuel Pizzi cumprimentar-se-ão na Arena de Kazan como velhos amigos.

O duelo que vale a passagem à final promove o reencontro entre dois ilustres conhecidos cujas carreiras se cruzaram num tempo em que ambos não sonhavam sequer chegar ao comando técnico das seleções campeãs europeia e sul-americana.

Num tempo em que Fernando Santos era o «Engenheiro do Penta», o ponta-de-lança hispano-argentino foi seu pupilo.

Pizzi chegou ao FC Porto em 2000/01, como ponta-de-lança consagrado por uma carreira de gabarito no Barcelona e Tenerife, sobretudo. Entre Camp Nou e as Antas interpuseram-se duas épocas no futebol argentino (River Plate e Rosario Central) e à chegada o instinto goleador esmorecera em função da veterania e de algum condicionamento físico.

A estreia foi num clássico da 1.ª jornada frente ao Benfica, entrou a meia-hora do fim, e à 4.ª jornada oito minutos apenas em Campo Maior chegaram para bisar e sentenciar a goleada do FC Porto em 5-0.

Pizzi, então de 32 anos, parecia lançado, mas não passou a ser mais do que uma aposta de Fernando Santos nos instantes finais dos jogos. Só voltaria a marcar mais uma vez para o campeonato (9.ª jornada, 6-0 ao Alverca) e outra para a Taça (2-1 ao Atlético) antes de no mercado de inverno para regressar ao Rosario Central com um registo de quatro golos em 16 jogos de dragão ao peito.

Elogios de Jorge Andrade e Ricardo Costa

A vantagem em retrospetiva desse tempo que Pizzi passou no banco do FC Porto é que teve ao seu lado o então jovem defesa-central Jorge Andrade, então suplente de Aloísio e Jorge Costa, que ao Maisfutebol recorda as conversas com o agora selecionador chileno.

«Fiquei no banco ao lado dele em alguns jogos e lembro-me dos comentários sempre que um jogador tentava fintar e perdia a bola: “Tem de passar para trás. Senão perde a bola…”, dizia ele, que no banco já dava opiniões muito sustentadas. Era de prever que fosse treinador não só por isso, mas pela personalidade muito forte e pela voz de comando que se percebia ali.»

Jorge Andrade salienta que o estilo de jogo que Pizzi perfilha tem que ver com o seu passado como jogador: «A escola do Barcelona influenciou-o e vê-se isso no estilo de jogo que o Chile apresenta, com uma saída de bola sempre com critério, sempre com posse. E também com muita garra. São muito fortes mentalmente.»

Ricardo Costa, outro central internacional português, não só enfrentou Pizzi nos treinos nessa equipa do FC Porto de 2000/01 (época tão atípica que viria a consagrar o Boavista como campeão nacional), como em 2013/14 viria a ser orientado no Valência pelo agora selecionador chileno.

«Joguei contra ele nos treinos conjuntos da equipa B com a equipa principal e marquei-o. Jogava bem de cabeça, era muito perigoso nos movimentos curtos na área, mas eu era um miúdo e corria que me fartava. Agora, como treinador, é aquilo que se vê no Chile: raça, atitude, vontade de ganhar cada lance… No Valência jogávamos para ganhar e ele apostava num 4-2-3-1 que era o que melhor se adequava ao nosso fio de jogo e aos jogadores que tinha», recorda ao Maisfutebol o central de 36 anos que na próxima época vai representar o Tondela.

Pizzi, quando era treinador do Valência, acompanhado por Ricardo Costa e Hélder Postiga

Ricardo Costa salienta Pizzi como «um treinador completo» e também a competência do seu staff: «Do preparador físico aos adjuntos, são todos muito bons.»

De Fernando Santos, que marcou o seu início de carreira, tem a ideia de um treinador «experiente e conhecedor», que tinha uma boa relação com todos os jogadores, em particular com os jovens, como era o seu caso: «O mister Fernando Santos lançou-me a mim e ao Hélder Postiga (curiosamente outro jogador que se cruzou com Pizzi no Valência em 2013/14) num jogo na Amadora. Chamava-nos aos dois para treinar com a equipa principal e punha-nos a jogar em alguns jogos particulares. Foi a forma de nos lançar numa equipa já muito experiente e rotinada como era o FC Porto dessa época.»

Um abraço de Pizzi a Pizzi

Além do reencontro com Fernando Santos, Pizzi vai ter a oportunidade de conhecer Luís Miguel Afonso Fernandes.

Quem?

Pizzi, o médio do Benfica e da Seleção Nacional, que em miúdo, com seis, sete anos, marcava golos uns atrás dos outros seu bairro em Bragança envergando uma camisola do Barcelona dos tempos em que Pizzi era goleador culé. A alcunha colou-se-lhe à pele e chegou ao conhecimento do original, que em entrevista em outubro de 2012 ao jornal i antecipou com bom humor um possível encontro com o seu fã de outros tempos:

«Quando falarmos, vai ser engraçado. Para início de conversa, vou propor-lhe direitos de autor, percentagem por venda de camisolas e mais umas coisas importantes. Agora a sério, é gratificante saber que deixei uma marca no futebol. Ver que um miúdo sentiu admiração por ti é inexplicável…»

A espécie de resposta do Pizzi português chegou no início deste mês, numa conferência de imprensa do médio de Portugal no estádio de preparação para a Taça das Confederações.

Pizzi dá indicações a Arturo Vidal, uma das grandes figuras da seleção do Chile

A pergunta foi qualquer coisa do género: «Já pensou que na Rússia pode reencontrar-se com Pizzi, o original?»

Pizzi não sorriu sobre a possibilidade que agora vai concretizar-se: «Se acontecer, será uma situação curiosa. Não é normal acontecer isto no mundo do futebol. Mas tenho um respeito enorme pelo selecionador do Chile. Oxalá possamos estar juntos e dar um abraço.»