* por Rita Pereira, com Pedro Jorge da Cunha

Olhar para o plantel do Treze Montalegre/ADR Pasteleira é fazer uma viagem ao passado recente do futebol português. Entre jogadores jovens, a dar os primeiros passos, estão três experientes profissionais, nomes famosos no passado do principal campeonato português: Wender, Afonso Martins e Lucas.

O Treze Montalegre/ ADR Pasteleira é o primeiro clube em Portugal a dividir o nome com patrocinadores, neste caso a marca Treze. Fundado no verão de 2013, surgiu do desejo de manter vivos dois históricos na cidade do Porto: a ADR Pasteleira e o Grupo Desportivo Montalegre.

«O Pasteleira, um clube com mais de 50 anos, ponderava o fim do futebol sénior masculino. O Montalegre, fundado em 1992, competiu até 2003 e algumas pessoas queriam colocar novamente o clube no ativo. A vontade de recuperar estes dois clubes deu origem ao Treze Montalegre/ADR Pasteleira. No fundo foi apenas uma refundação», explica o presidente (e jogador) Rémulo Marques.

Os convites a amigos e conhecidos sucederam-se e no plantel a direção do clube reuniu jovens em busca de oportunidades, atletas desempregados e três futebolistas que já foram profissionais na I Liga: Wender, Afonso Martins e Lucas.

Rémulo Marques revela ao Maisfutebol que o clube desafiou estes três jogadores e o repto foi aceite «porque têm saudades do ambiente do balneário» e, acima de tudo, «pelo prazer que têm em jogar».

«Eles estão no clube pelo convívio, mas mais do que ninguém querem ganhar e passam essa mensagem e esse espírito», acrescentou o presidente do clube que compete no Campeonato Nacional do INATEL.

Rémulo Marques ressalta a importância destes jogadores no plantel, pelos «conselhos, atitude e espírito de querer ganhar» transmitido aos colegas: «O valor deles é inestimável, é uma experiência única para todos os jogadores».

Afonso Martins e o «regresso à infância»

Afonso Martins deixou o futebol profissional na temporada, 2011/2012 após passagens por clubes como o Sporting, Moreirense e Vitória de Guimarães. O convite do Treze Montalegre foi um «regresso à infância», confessa o médio, hoje com 40 anos.

«As diferenças entre este clube e os outros por onde passei são muitas. Não há comparação porque não é um clube conhecido, não há tantas viagens, nem tantos interesses e somos quase como uma família. Mas os objetivos são os mesmos: ganhar», afirma Afonso Martins.

O facto de conviver com jovens jogadores é fundamental, porque permite ao futebolista transmitir «experiência, sabedoria e humildade», explica ao Maisfutebol.

Para o médio, «este é um projeto sério e mostra que em Portugal existem bons jogadores jovens». «Os empresários e os clubes devem ver estes jogadores jovens que atuam nestes campeonatos, porque eles existem e um dia mais tarde vamos precisar destes atletas. Basta ver que nas equipas grandes quase não jogam portugueses».

Afonso Martins ganhou três títulos com a camisola do Sporting e assume que já sentia «muitas saudades deste desporto».

Wender: «Não pensei que fosse tão sério»

«A sensação de voltar a jogar é ótima». É desta forma que Wender começa a conversa com o Maisfutebol, garantindo que, «depois de 20 anos a nível profissional», poder «juntar amigos ao fim de semana e jogar é muito bom».

A «amizade com as pessoas do clube» foi crucial para Wender ter aceite o convite feito pelo Treze Montalegre/ADR Pasteleira, mas o brasileiro revela que, no início, a ideia era diferente.

«Não pensei que fosse tão sério. Pensei que íamos apenas bater bolinha, fazer umas brincadeiras, mas depois percebi que era uma coisa séria e organizada. É muito bom para fazer um ou dois treinos por semana e ao fim de semana jogar. Posso manter a forma física», esclarece.

Wender é, atualmente, o treinador dos juniores do SC Braga, um cargo que concilia com o de jogador. Para o médio, a oportunidade de conciliar as duas funções «tem sido muito interessante» pelas diferenças que existem entre treinador e jogador.

«O olhar do treinador é global. Um jogador é mais egoísta e só pensa em si. O treinador pensa no grupo e agora tenho mais noção disso», explicou Wender.

Lucas: «Não é voltar a jogar, é matar o bichinho»

No ano de 2008, com apenas 28 anos, Lucas viveu «o pior momento» da vida, disse na altura em conferência de imprensa. Um problema de coração obrigou o jogador do Estrela Vermelha a abandonar o futebol profissional.

Cinco anos depois, Lucas é o delegado Norte do Sindicato de Jogadores, uma experiência que apelida de «diferente», mas que lhe permite «continuar no meio, a lidar com jogadores».

Este ano surgiu o convite do Treze Montalegre/ADR Pasteleira, que viu no médio uma mais valia para o clube, apesar das limitações decorrentes do problema de coração.

«É um projeto muito interessante. Para mim, não é voltar a jogar, porque tenho muitos cuidados, é mais matar o bichinho do futebol, de dar uns pontapés na bola, do espírito de balneário, das brincadeiras que existem nas equipas», explicou Lucas, que em Portugal passou por Boavista, Académica, Sporting de Pombal e Alcobaça.

Do Mónaco à Grécia, o apoio de figuras públicas

Apesar de ter no plantel três antigos atletas do principal patamar nacional, o Treze Montalegre/ ADR Pasteleira assume-se, acima de tudo, como uma equipa de amigos. Prova disso, é a presença no plantel do humorista João Seabra.

Seabra não é dos que mais e melhor joga, mas é uma figura obrigatória no balneário. Ainda recentemente, sabe o Maisfutebol, presenteou os colegas com duas grades de cerveja. Bendito companheiro de equipa!

Outra curiosidade deste clube único reside na profissão do presidente Rémulo Marques. É jornalista e viaja por todo o mundo, o que lhe permite ser um verdadeiro embaixador do Treze Montalegre.

Tanto assim é que já vários craques posaram para as objetivas com a camisola do emblema portuense: Ricardo Carvalho, João Moutinho e Javier Pastore são só alguns exemplos. Fernando Santos, selecionador grego, é outro adepto atento, como se verifica na página oficial do clube num rede social.

«Somos diferentes, conseguimos atrair atenções várias, incluindo a do maior banco de investimento português, nosso main sponsor. Vamos convidar também o Raul Meireles para nosso padrinho, pois atuou nas camadas jovens do Pasteleira», resume o dirigente-jogador-jornalista.

A apresentação oficial do Treze Montalegre/ ADR Pasteleira foi feita contra uma equipa orientada por António Sousa, campeão europeu pelo FC Porto. Gouveia, Nelo, Tavares, Rui Ferreira, Franco, Marcão, Ribeiro e Paulo Gomes foram alguns dos adversários.