Quando o futebol ainda não acabou a sua adaptação às consequências da sentença Bosman, em Itália nasce um novo movimento de características similares, que poderá abalar de novo toda a estrutura futebolística europeia.

Os factos são inequívocos:

1-O Perugia quer contratar um jogador de outro clube italiano.

2-O jogador em questão quer jogar no Perugia.

3-O Perugia não quer pagar a transferência do jogador em questão.

4-O Perugia leva o caso à União Europeia, que por sua vez implicitamente já avisou a UEFA da ilegalidade do actual sistema de transferências.

O comissário para a concorrência da União Europeia, Mario Monti, já no passado mês de Junho solicitou à UEFA que modificasse todo o sistema de transferências, alegando que um futebolista tem o mesmo direito a trocar de clube que um qualquer trabalhador a mudar de empresa. Assim, parece claro que os acontecimentos correrão céleres, e que mais do que provavelmente o tribunal de Bruxelas dará razão ao clube italiano.

Eu, que tanto gosto de uma pitada de ironia nos meus textos, confesso que não consigo encontrá-la num caso que me deixa expectante e preocupado. Chegou a hora de na UEFA se preocuparem com algo sério e de cruciais consequências para o futebol do futuro, esquecendo frivolidades com que ocupam o tempo e justificam os gastos.

Bosman está imortalizado pelo impacto da sua luta; alguns jogadores, repito, alguns jogadores, estão milionários como consequência de serem em determinado momento agentes livres. Mas que ganhou o futebol? E agora Bruxelas, que ganhará o futebol? Pensem no futebol e naqueles que o amam.

E, para terminar, uma referência aos «velhotes» jogadores dos anos cinquenta e sessenta, que nasciam e morriam no mesmo clube sem pedir um escudo mais e que fizeram do futebol um mundo de paixões. Agora, na velhice, não vale a pena pensar naquilo que poderia ser a vossa conta bancária se tivessem nascido duas décadas mais tarde. Esqueçam isso e vivam felizes com o que nos deixaram...

F.C. Porto, ai-ai-ai!

Espero que o futebol português volte a ter esta época dois clubes na Liga dos Campeões, o que seguramente acrescentaria prestígio ao conseguido pelo nosso futebol no Euro passado. No entanto, e como consequência do traiçoeiro resultado em Bruxelas, temo que o F.C. Porto corra sérios riscos de não poder aumentar o seu fantástico número de presenças na máxima competição europeia de clubes.

A recuperação de uma derrota por 1-0 exige sempre uma qualidade extrema aliada a um potencial psicológico fortíssimo, e neste momento sinto o F.C. Porto como uma equipa repleta de duvidas.

No Barça, na época de transição Robson-Van Gaal, também jogámos a eliminatória preliminar em Agosto. Van Gaal queria implantar o sistema 3-4-3, mas ao constatar o mar de dúvidas em que os jogadores viviam, resolveu que prepararíamos a equipa para esta crucial eliminatória no sistema táctico da epoca anterior com o qual todos se sentiam mais cómodos e confiantes, o 4.2.3.1. Assim foi, mais confiantes e automatizados, ganhámos a pré-eliminatória e seguimos para a fase seguinte da Liga. Posteriormente, a transição para o 3-4-3 foi feita. Ganhámos 3 títulos nessa época. A transição de sistema para sistema foi feita sem pressões. E para um clube português não há maior pressão que a de poder ganhar ou perder muitos milhares de contos...