O Benfica venceu o V. Setúbal, apurou-se para os oitavos de final e segue em frente na Taça de Portugal. Por aqui tudo bem, não é?

Nem por isso.

Os encarnados venceram e cumpriram a obrigação, portanto, mas mantiveram demasiado tempo o resultado em cima de um degrau inseguro, periclitante e demasiado instável.

Confira a ficha de jogo e as notas dos jogadores

É verdade que esta equipa estava longe de ser a mais utilizada, faltaram jogadores importantes como Fejsa, André Almeida, Salvio ou Ruben Dias, mas é verdade também que isso não explica tudo, e não explica sobretudo por que o Benfica demora em chegar ao nível de um passado recente.

A equipa parece estar em peregrinação.

Sabe onde quer chegar, mas cumpre o caminho em sofrimento, arrastado, melancólico, preparado para penar e aguentar a dor, neste trajeto de amargura até encontrar de novo a fé nele mesmo.

É certo que teve três ou quatro ocasiões para fazer o segundo golo antes de permitir que o Vitória se tornasse mais atrevido, mas encontrou pela frente um Cristiano inspirado.

O que aumentou o ceticismo dos jogadores encarnados.

A partir daí o V. Setúbal alimentou com naturais expetativas a convicção de que podia chegar ao empate. Sobretudo na segunda parte, a formação sadina foi para cima do adversário e criou uma, duas, três, quatro situações de perigo. Valeu nessa altura Bruno Varela.

André Sousa, por exemplo, desperdiçou uma excelente ocasião de golo, em boa posição e solto dentro da área, Arnold e Semedo remataram com perigo para boas defesas do guarda-redes encarnado, João Amaral desperdiçou uma soberana ocasião na cara do mesmo guardião.

Bruno Varela mostrou então, dois meses e dois dias depois do frango no Bessa, que está recuperado do erro. Não deve chegar para voltar a ser titular, mas chega seguramente para viver em paz.

Esta noite conquistou essa gratificação.

Em compensação houve jogadores na equipa encarnada que perderam uma excelente ocasião de mostrar que merecem mais do que o banco (ou a bancada). Jardel foi constantemente ultrapassado, Samaris nunca acertou nas marcações, Rafa fartou-se de correr mas não acrescentou nada palpável.

O jogo não foi deles, portanto.

Tal como foi muito pouco de Jonas, que perde influência quando joga sozinho na frente de ataque: preso entre adversários, o brasileiro não deixa de ser perigoso, porque é um craque, mas torna-se menos decisivo, até porque entra menos em jogo, o que até prejudica Pizzi, que perde a referência preferida: e assim se prejudicam os dois melhores jogadores das duas últimas épocas.

Veja quem foram os maiores destaques do jogo

Em compensação Cervi marcou um golo e fez uma assistência, e Krovinovic encheu o campo de pormenores de inteligência e classe, naquele jeito de jogar simples que é uma lufada de ar fresco.

Não se perdeu tudo, pois claro.

Mas há sem dúvida muito espaço para melhorar esta equipa que continua em peregrinação, quando já ia sendo tempo de chegar ao destino e encontrar a fé nela própria.