Começava julho de 2003 quando o verão futebolístico foi agitado por uma notícia inesperada. O Chelsea era comprado por um russo que não tinha nada a ver com futebol, mas tinha muito dinheiro. Roman Abramovich, oligarca saído do desagregar da antiga União Soviética e com milhões e milhões ganhos a partir do petróleo, gastou 140 milhões de libras (163 milhões de euros) para se tornar dono absoluto do clube. O futebol não voltou a ser o mesmo.

Abramovich comprou o Chelsea a Ken Bates, que tinha pago uma libra pelo clube em 1982, e a vários outros pequenos acionistas. E elevou o estatuto do clube à força de dinheiro. Muito dinheiro. Nestes 10 anos gastou quase 800 milhões de euros em contratações, estima a BBC (não há números oficiais, mas mais 50 menos 50 milhões as estimativas apontam para aí).

Teve 10 treinadores diferentes, o mais duradouro do dos quais foi José Mourinho. Que fecha este ciclo regressando a Stamford Bridge, depois de ter sido o primeiro treinador escolhido por Abramovich para o seu projeto megalómano.

E ganhou, muito. Depois de ter mantido Ranieri na primeira época, mas de ter já investido forte para dar uma série de reforços ao italiano e de este ter chegado à meia-final da Liga dos Camoeões, Abramovich apostou no português e ganhou. No primeiro ano com José Mourinho, o Chelsea foi campeão inglês. Só o tinha conseguido uma vez na sua história, 50 anos antes. Nessa época também chegou à meia-final da Liga dos Campeões.

O Chelsea crescia e tornava-se um grande da Europa. À custa de Abramovich. Se os resultados desportivos foram aparecendo, com algumas oscilações, o Chelsea não esteve nem perto do equilíbrio financeiro. Ao todo, sem contar ainda a última época, perdeu 735 milhões, quase tanto como gastou no mercado, contas do jornal «Independent», que cita o relatório anual da Deloitte. Nestes 10 anos só por uma vez deu lucro, na temporada 2011/12, precisamente aquela em que, contra todas as expectativas, o Chelski chegou ao topo: ao título europeu, com o adjunto que substituiu Villas-Boas, Di Matteo, no banco.

Tão apaixonado pelo jogo como impaciente (diz quem o conhece, que Abramovich aparece e fala mesmo muito pouco), voltou a mudar de treinador no decorrer da época seguinte. E voltou a ganhar. O Chelsea caiu sem glória da Liga dos Campeões, foi o primeiro campeão afastado na fase de grupos, mas com Rafa Benítez ganhou mais um troféu internacional: a Liga Europa, na final frente ao Benfica.

Abramovich já festejou dois troféus europeus, três títulos da Premier League, quatro Taças de Inglaterra e duas Taças da Liga. O seu modus operandi revolucionou o futebol europeu, porque introduziu um factor totalmente novo, dinheiro sem necessidade de retornou imediato ou de equilíbro. Serviu de exemplo a muito do que se seguiu nos últimos anos. Manchester City, PSG e muitos outros tentaram repetir o modelo. Dinheiro estrangeiro injetado em doses maciças, a tentar fazer de elevador para novos patamares de grandeza. Levantou também um mundo de questões. Mas Abramovich, pelo menos ele, segue para já indiferente, a mudar treinadores e a gastar dinheiro no Chelsea.