As voltas que a vida dá. Entrei no mercado de trabalho, jornalista de corpo e alma inteiros, há nove anos. Fui a uma entrevista para emprego de pernas a tremelicar. Mãos suadas, discurso ridículo de tão inseguro, apesar da indumentária impecavelmente aprumada. Lembro-me de pouco, quase nada, daquela conversa estapafúrdia com o meu primeiro empregador. Mas fixei um recado: «Temos de fazer melhor do que o Maisfutebol. Onde eles estiverem, também estaremos.»

Pois é. Ainda nem sabia o que era um jornal online e esta casa, a minha casa, já me era uma referência. Tentei, sem grande sucesso, estar durante seis anos onde o Maisfutebol esteve. Tentei, sem grande sucesso, fazer melhor do que os jornalistas do Maisfutebol, ao longo de todos os primeiros tempos da minha carreira.

Aprendi a admirá-los. Pela rapidez de reacção, pelas reportagens plenas de criatividade, pela capacidade sobre-humana de trabalho. Trabalharia aquela gente 24 horas por dia? Invejei-os, admito que sim. Talvez desiludido pelo meu jornalismo de então, talvez farto da minha incapacidade de lhes estar um passo à frente.

As voltas que a vida dá. Em Abril de 2006 lembraram-se de mim. Voltei a sentir o tremelique nas pernas e as mãos a suar. O Filipe Caetano, agora no TVI24, ligou-me e lançou-me o desafio. «Vens para cá, acho que tens tudo para te integrares bem.» Estaria ele louco? Pelos vistos não. Longe disso.

Descobri um mundo novo, o mundo que tanto invejava. Senti-me o miúdo que sobe ao palco a convite do mágico. Tive direito a visita guiada aos labirintos do conhecimento (chamemos-lhe backoffice) e a lições privadas com os melhores profissionais que conheci até hoje (chamemos-lhes amigos).

Aprendi o que é trabalhar de forma apaixonada. E a culpa é toda deles. Do Filipe, do Sérgio Pereira e do Vitor Hugo Alvarenga. Culpados, inexoravelmente culpados, sem direito a recurso. Começo por eles porque estiveram/estão ao meu lado na redacção-Porto. Quantas conversas trepidaram, quantas ideias brotaram, quantas alegrias e desilusões partilhámos?

Passei/passo mais tempo com eles do que com a minha família. Por paixão, por amar o que faço, por fazer parte do Maisfutebol. Esta marca é, ainda assim, muito mais do que isto. É um exemplo inatacável de independência, lacrado pela sabedoria do Luís Sobral e pela sintonia entre todos os outros. É frescura, é paixão. É isso, é PAIXÃO.

Em quatro anos vivi muita coisa. Levei a mente ao limite, senti o corpo extenuado. Fiquei até às 3h30 da manhã à espera que o Di María chegasse a casa para falar com ele e dar em primeira-mão a sua vinda para o Benfica. Sozinho? Não. O director estava do outro lado do monitor, a fazer com que a solidão pesasse menos sobre as minhas pálpebras.

Fiz 700 kms entre Gelsenkirchen e Nuremberga, depois de um Schalke 04-F.C. Porto. Guiei durante toda a noite e madrugada, vi o sol nascer. Tinha de estar às 9 horas na segunda destas cidades, para ouvir e escrever de imediato a conferência de imprensa do Camacho. Consegui. O leitor leu e não sentiu o esgotamento do escriba.

Falo de mim, como podia falar da dedicação comovente de todos os meus colegas a esta causa. À nossa causa.

Agora já não tenho inveja. Sinto-me invejado. Para mim, o Maisfutebol é isto.