Pensar no Manchester United e em Alex Ferguson é como estar a pensar em dois sinónimos. É claro que o clube inglês é mais do que isto, com referências como Matt Busby como exemplo; é claro que o manager escocês também, com os tempos do Aberdeen como exemplo. Mas falar de um sem o outro é impossível. Em 2004, 18 títulos depois desde que há 18 anos entrou em Old Trafford, Ferguson celebrou mil jogos à frente do clube inglês.
Em Novembro, frente ao Lyon, aconteceu o milésimo jogo, com a passagem aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Um número tão redondo como gordo para o «patrão» de Carlos Queiroz; que foi a sua escolha para braço-direito; que deixou «sair de casa» para tentar por si a aventura no Real Madrid; que este ano voltou a chamar como «filho pródigo».
Esta insistência é se calhar um dos motivos para adiantar Queiroz ¿ como aconteceu na semana passada ¿ como o sucessor do técnico que levou o Manchester a quebrar um jejum de 26 anos como campeão inglês. Mas há cerca de três anos que se especula sobre o adeus aos campos de futebol deste escocês entusiasta em pequeno do Glasgow Rangers, mas filho de um adepto do Celtic, ponta-de-lança enquanto jogador, trabalhador na construção naval e senhorio de um pub, antes de ser treinador.
Rigor, risco e mau feitio
Conquistada a Liga dos Campeões, o troféu mais apetecido, em 1999, o início do fim da carreira parecia ter sido desencadeado. Mas o descanso do guerreiro ainda está por acontecer e já este ano renovou até Junho de 2006. O treinador que faz 63 anos esta sexta-feira dia 31 de Dezembro vai continuar à frente de uma equipa que é bem a sua imagem: que quer ser rigorosa na defesa para poder arriscar no ataque. Ferguson é também assim. Só gosta de gastar dinheiro de um orçamento de luxo quando é mesmo preciso e, ao mesmo tempo, não tem medo de arriscar convicto da sua intuição.
Assim tem sido ao longo dos anos com a grande maioria das apostas a darem certo: as promoções à equipa principal de jogadores ainda muito jovens como Giggs, os irmãos Neville, Beckham ou Scholes; as escolhas a dedo de Keane, Schmeichel, Cantona, Van Nistelrooy ou Ferdinand. E, há dois anos, Ronaldo e, esta época, Rooney. Jogadores que sob o seu comando se arriscam a conquistar a glória, mas que, não obstante, sentem bem de perto o temperamento irascível de quem atirou uma bota ao sobrolho de Beckham e tem como imagem de marca o «tratamento do secador»: quando se chateia berra em cima da cara dos jogadores.
«Inimigos» de estimação
O Ferguson ganhador de títulos é também o que entra em conflito com os accionistas do clube: os irlandeses com quem manteve disputas pela paixão pelos cavalos; o norte-americano que ameaça ficar accionista maioritário do Manchester. É o Ferguson que critica Eriksson por não dar descanso aos jogadores do United; assim como fez questão de dizer à selecção olímpica de Portugal que estavam a «apontar uma pistola à cabeça de Ronaldo».
Nunca perde uma «boa discussão» no futebol e tem-na mantido com as gentes do rival Arsenal de Arsène Wenger. Mas o feitio do treinador que já este ano contratou um jovem chinês de 18 anos para «formar» tem destas coisas. Nunca chegou a esclarecer se a sopa com que apanhou no final do escaldante Manchester-Arsenal (2-0) foi de tomate ou de ervilhas. Antes preferiu responder às acusações de penalty forjado por Rooney com pedidos de castigo para Henry por agressão.
Não gostou da forma como perdeu com o F.C. Porto na Liga dos Campeões e acusou Baía de ter exagerado na expulsão de Keane. Deu os parabéns a Mourinho depois de ter sido eliminado, mas voltou a não poupar os árbitros dos dois jogos. Agora o português voltou a cruzar-se consigo em Inglaterra e o duo com Wenger para as picardias aumentou para três. Alex Ferguson parece gostar de cultivar essa máxima dos líderes: nunca se o é verdadeiramente sem ser «amado» por uns e «odiado» por outros.