«Diga ao preto que é o melhor. Diga-o da minha parte.» As palavras foram de Luis Aragonés e foram apresentadas com imagens do seleccionador espanhol, com cara de pouco amigos, a falar com um sorridente António Reyes num treino da equipa nacional espanhola.
A indignação estalou de imediato, sobretudo entre os ingleses, defensores do clube do seu país, o Arsenal, onde jogam o visado, Thierry Henry, e o próprio Reyes (o que espantou foi a falta de reacção equivalente por parte dos franceses).
Não deverá fugir ao título de «a gaffe do ano», o comentário de Aragonés, salientando que gaffe pode apenas ser o eufemismo mais condescendente quando se trata de comportamentos de teor racista que, desta vez, não aconteceram das bancadas para o relvado, mas no sentido inverso.
O seleccionador espanhol, pediu desculpas através da federação, defendeu-se das acusações de racismo e disse que apenas queria motivar (?) o seu jogador no âmbito dos treinos (mas a Espanha nem ia defrontar a França...). Os ingleses insistiram na sua demissão. Aragonés reagiu mal. E voltou a dizer o que não devia: que os ingleses deviam pensar duas vezes antes de falarem de racismo devido ao seu passado colonialista.
Os mais altos dirigentes desportivos espanhóis devem ter pensado «Mas quando é que ele se cala?!» e, talvez determinados a isso, através da Comissão Antiviolência (entidade dependente do governo espanhol), impuseram um processo a Luis Aragonés não lhes bastando os «panos quentes» depositados pelo presidente da federação, Ángel Maria Villar; processo ainda sem veredicto.
Racismo por todo o lado
Como uma desgraça nunca vem só, um mês depois foram os adeptos espanhóis a ter gestos racistas para com os jogadores da Inglaterra, quer no jogo dos AA, quer no dos sub-21. E a Espanha apanhou uma multa; demasiado branda no entender dos britânicos.
Mas como os ingleses também não estão isentos de mácula nestes assuntos, o português Luís Boa Morte já se queixou no início deste ano do mesmo comportamento por parte de Duncan Ferguson na Premiership.
E, para completar o ramalhete, também há portugueses que têm comportamentos idênticos de acordo com jogadores do U. Leiria. Octacílio contou que foi vítima de gestos racistas há pouco mais de uma semana na deslocação a Setúbal. É notório que, por muito diferentes que sejam os que distinguem o outro pela cor da pele, mesmo em 2004, esses ainda acabam por ser muito iguais entre si.