Os coleccionadores de cromos de há 25 anos poderão lembrar-se do nome: Garcia Remón. E quem tiver uma memória mais fotográfica lembrará a cara, a espreitar envergonhada por detrás de um bigode potente. Eram bons tempos, esses, em que a pujança do bigode definia o lugar dos jogadores no ranking futebolístico. Por cá, Humberto Coelho, Chalana, Pietra, Oliveira, Costa, Gabriel, Baltasar e Barão, entre outros, deram às pilosidades faciais algumas das suas grandes tardes de glória.
Os novos tempos vieram mudar o panorama. Excepção feita ao cargo de seleccionador nacional, que continua a exigir o bigode como requisito técnico indispensável, as caras escanhoadas passaram a impor a sua lei, nos relvados e no banco de treinador.
Como muitos outros, o antigo guarda-redes do Real Madrid e o seu bigode amestrado lá ficaram, esquecidos, num canto da História, durante mais de duas décadas. Até que, quando o Verão de 2004 se finava, Camacho confirmou a sua vocação para batedor de portas no Bernabéu. Garcia Remón percebeu que tinha entre mãos a oportunidade histórica de recolocar os bigodes no centro do futebol mundial, depois dos esforços tão incompreendidos de homens como Vicente del Bosque, Scolari, Neca ou José Romão. O desafio não o assustou.
Para segurar as pontas em pleno descalabro ficou a figura honesta e discreta de um homem de quem não se conhece uma ideia, um conceito de jogo, um método de trabalho, mas que tem, ao contrário de Carlos Queirós, o mérito de nunca ter renegado o bigode para ser grande no futebol.
Nos últimos meses, até podia ser penoso assistir ao anárquico desperdício de talento nos jogos dos merengues. Mas quem fixasse os olhos no banco sentia, por momentos, a força dos ventos da História: Garcia Remón tinha, indubitavelmente, qualquer coisa de glorioso naquele jeito discreto de gritar a meia voz, para dentro do campo, ordens que ninguém ouvia ou cumpria.
Até uma criança de quatro anos percebe que essa qualquer coisa só podia ser o bigode. Só Florentino Perez não o percebeu, escolhendo a cara lisa de Wanderley Luxemburgo para liderar o barco em 2005. Uma aposta fadada para o fiasco, claro, a menos que o brasileiro aprenda com o bom Garcia e cubra o lábio superior com os pêlos da sabedoria.