O telefonema de Ricardo para a estação de televisão Sport TV para entrar em directo no programa «A noite do futebol», acabou por marcar um ano de guerra aberta na baliza de Portugal para o Europeu 2004. Nesta altura, em que o guarda-redes do Sporting levantou voz para se defender dos ataques de «pessoas que fogem à verdade», como disse, a situação até estava calma. Se exceptuarmos, claro, o clássico entre o F.C. Porto e o Sporting.
Foi até no âmbito da discussão em torno da falha de Ricardo no primeiro golo do F.C. Porto que o telefonema surgiu. O guarda-redes partiu de uma situação particular para o geral e, no fundo, para abordar de uma forma genérica todo o ano de 2004. O antes e o depois do Europeu.
A luta pela baliza da Selecção Nacional para o Euro com Vítor Baía foi, essa sim, a grande batalha. Scolari entendeu nunca seleccionar o guardião campeão europeu. Havia quem defendesse, havia quem criticasse a escolha do brasileiro. Mas era aqui que entrava Ricardo, guarda-redes que terminou a época com 33 golos sofridos.
O Europeu correu da melhor forma a Ricardo. O Portugal-Inglaterra, recordado como o jogo em que defendeu uma grande penalidade sem luvas, elevou o guarda-redes a um ponto ainda não atingido, mas não acabou com a discussão.
No livro «Diário de um sonho», apresentado depois do Europeu, Ricardo resolveu falar de Vítor Baía e reabrir um dossier que não tinha mais por onde continuar, ao queixar-se de uma entrevista do guarda-redes do F.C. Porto. O pior chegava depois.
Primeiro no Liechtenstein, no empate escandaloso de Portugal a duas bolas, em que Ricardo comprometeu na baliza. No final, justificou-se dizendo que nada tinha a explicar. Depois, no clássico com o F.C. Porto, em que aliviou mal a bola e permitiu o primeiro golo da equipa portista, no duelo com Baía pós Europeu. No final, a mesma explicação.
Naquela noite do dia 9 de Novembro de 2004, falava-se do erro de Ricardo no clássico. O guarda-redes «explodiu» e resolveu entrar em directo no programa de forma intempestiva e reclamar paz. «O Ricardo só tem defeitos há um ano...», ironizou o próprio. «Deixem de bater no Ricardo por amor de Deus, sem nexo! De uma vez por todas, deixem-me em paz!»