Uma das grandes virtudes dos treinadores é não alimentarem falsas expectativas. Quem contrata um técnico quer saber com o que conta. Seja no trabalho do dia a dia, seja na relação com os media, ou ainda na forma como reage, no banco às incidências do jogo, um técnico deve criar uma identidade e, depois, ser-lhe invariavelmente fiel.
Nessa medida, Claudio Ranieri é dos treinadores mais confiáveis do futebol mundial. Como uma bússola que aponta sempre para sul, o técnico italiano conjuga o sorriso afável, os fatos de bom corte e um sentido de humor duvidoso, com uma infalível capacidade para pôr as suas equipas a jogar um futebol retrógrado, aborrecido e previsível. Como corolário, consegue de todas as vezes resultados aquém das expectativas.
É assim há muitos anos o homem que Jorge Valdano um dia apresentou como «uma companhia encantadora, um gentleman e um amigo sincero a quem pedi o favor de nunca me levar a ver jogar a sua equipa». Um verdadeiro exemplo de persistência.
Depois de ser trocado por Mourinho no Chelsea, e esquecido a um velocidade estonteante, herdou um Valência campeão da mão de Rafael Benitez. Precisou apenas de três meses para transformar os chés no grande fiasco da presente edição da Liga dos Campeões, despedindo-se da prova com um festival de cacetada e mau perder na humilhante derrota em casa com o Werder Bremen.
Com etapas marcantes em Nápoles, Florença, Madrid, Londres e Valência (duas vezes), Ranieri tem o impressionante currículo de uma Taça de Itália e uma Supertaça Europeia, ganha já este ano a um sub-F.C. Porto em quinze anos de carreira de topo. Caso para dizer que nunca tantos pagaram tanto a um treinador que lhes deu tão pouco. Mas é verdade que o homem é simpático e veste bem.