Gelsenkirchen. Impronunciável para muitos, sílabas de uma melodia de sonho para tantos outros. Os portistas, os portugueses, repetem-nas de cor e hão-de repeti-las sempre, tantas vezes quanto as que quiserem lembrar essa noite de glória. Quantas querem? Gelsenkirchen é sinónimo de F.C. Porto campeão europeu, o palco da consagração da grande equipa do «Dragão» que subiu até ao topo do Mundo em apenas dois anos.
Foi o coroar do sucesso tão rápido, tão intenso e ao mesmo tempo tão sólido desse F.C. Porto, que embasbacou a Europa do futebol 17 anos depois de Viena. Duas conquistas europeias em apenas dois anos, proeza que apenas gigantes doutros tempos como Liverpool, Milan e Juventus tinham conseguido.
Depois da Taça UEFA, a conquista da mítica Liga dos Campeões, a competição de referência do futebol mundial. O F.C. Porto foi crescendo na caminhada, depois do segundo lugar na fase de grupos, atrás do Real Madrid, a única equipa que conseguiu vencer o «Dragão».
Nos oitavos, o todo-poderoso Manchester United, uma noite de sonho no Dragão selada com dois golos de McCarthy e o apuramento em Old Trafford com um golo de Costinha a confirmar que a fortuna estava do lado do F.C. Porto. Estava lançada de vez a candidatura, seguiram-se Lyon (2-0, 2-2), D. Corunha (0-0, 1-0) e, por fim, o surpreendente Mónaco, parceiro de honra para a final.
Naquele dia 26 de Maio, Gelsenkirchen foi posto avançado da Invicta, uma cidade onde o azul e branco ofuscava desde as primeiras horas o vermelho do Mónaco. Primeiro foi a festa, com direito a sardinhas, garrafões de vinho e um São João fora de tempo a quebrar a rotina da austera cidade alemã.
Depois a tensão do jogo, os primeiros suspiros de alívio no golo de Carlos Alberto, levava a primeira parte 39 minutos. O Mónaco a pressionar, na segunda parte Alenitchev a entrar para ajudar a equilibrar as coisas e depois a vitória confirmada nos golos de Deco e do próprio Alenitchev, faltava pouco para a festa poder ser oficial.
Soa finalmente o apito, seguiu-se a euforia da Alemanha a Portugal, numa ligação directa que reuniu todos numa explosão de alegria. Todos menos José Mourinho, que preferiu recolher-se junto da família, por motivos que havia de explicar mais tarde. O distanciamento do treinador foi o momento de perplexidade na festa, a consolidar a impressão já existente de fim de ciclo, confirmada ainda nessa noite quando o treinador admitiu que queria sair.
O resto foi a consagração de uma grande equipa, a glória partilhada por Jorge Costa e Vítor Baía, as duas grandes referências do clube, juntos na hora de levantar a Taça, a conquista partilhada por todos os protagonistas e por todos os que, da Alemanha a Portugal, vibraram com ela. Porque esta é uma história para contar aos netos, como diziam Mourinho e Deco no final. O «Mágico» brincava dizendo que talvez até a contasse com algumas mentiras. Não é preciso, Deco, foi tão bom assim.