Em ano de grandes acontecimentos, a final da Taça de Portugal esteve à altura da ocasião. Frente a frente Benfica e F.C. Porto, na final mais repetida da história do troféu, mas também num encontro que não se via há 13 anos. Levou a Taça o Benfica, naquela que foi a única excepção ao monopólio de conquistas do F.C. Porto dos últimos dois anos. Sintomático outro dado ¿ foi o primeiro troféu do clube da Luz após oito anos de jejum.
A decisão jogou-se de alguma maneira nesse contexto. Jogavam a época e muito mais os «encarnados», jogavam a recuperação de algum amor próprio e o reconhecimento para uma equipa e um treinador que tinha mostrado ao longo de ano e meio um trabalho coerente, equilibrado e sério, até aí traduzido em dois segundos lugares no campeonato. Os portistas disputavam mais uma final, apenas 10 dias antes do jogo das suas vidas, a final da Liga dos Campeões.
Em campo, foi futebol. O Benfica entrou melhor, o F.C. Porto foi conseguindo ganhar ascendente e controlar o jogo, Derlei chegou à vantagem em cima do intervalo. Na segunda parte Fyssas empatou para o Benfica, antes do final Jorge Costa foi expulso. A decisão arrastou-se para prolongamento, a seis minutos do final Simão resolveu de cabeça.
Estava garantida a festa «encarnada», celebrada em memória de Miki Fehér, falecido no início do ano, numa tragédia que representou seguramente o momento mais dramático da vida profissional de todos os que vestiam a camisola do Benfica.

No Jamor viveu-se uma atmosfera de despedida. A final da Taça representou o último jogo em Portugal dos treinadores das duas equipas. Embora na altura ninguém o admitisse, já todos o adivinhavam. José Mourinho despediu-se com críticas ao árbitro, Camacho com alguma irritação perante a insistência sobre o seu futuro. Era altura de celebrar, defendia, coisa que não era assim tão corriqueira para o Benfica desperdiçar.
Em Lisboa festejou-se a conquista da 24ª Taça do clube, numa celebração que levou milhares à rua mas não teve de modo algum a dimensão que teria a conquista de outro troféu, como se para os benfiquistas este fosse apenas prémio de consolação.