O último toque na bola de Miklos Fehér foi para um golo do Benfica. Ele não o fez, deu-o antes a Fernando Aguiar. Com a mesma simpatia que sempre mostrou. Valeu uma vitória ao Benfica e despediu-se pouco depois. Fehér caiu no relvado depois de olhar para o árbitro Olegário Benquerença. Depois de sorrir.
O sorriso do jogador húngaro, que morreu no Estádio D. Afonso Henriques no dia 25 de Janeiro de 2004, fica na memória. A pior forma de «abrir» o ano futebolístico aconteceu numa noite de chuva, de tempestade, de «terror». Os 90 minutos de um jogo de futebol entre o Vitória de Guimarães e o Benfica, que iria ser ganho pelos encarnados com um golo nos descontos, estavam completos. O árbitro ia apitar.
Mas quis o destino que fosse uma das noites mais longas do futebol português. A mais longa e mais dolorosa noite de 2004. Quando Fehér caiu inanimado no relvado de Guimarães depois de se agachar, de colocar as mãos nos joelhos, e de olhar para a relva, ninguém queria acreditar. A camisola 29 caiu para trás, sem resistência e sem força para se amparar. Sem voltar a erguer-se.
Sokota e Cléber foram os primeiros a chegar. Com uma frieza de arrepiar, Sokota virou Fehér e deu-lhe a primeira assistência. Cléber chamou pelos médicos, depois foi o amontoar dos jogadores, a admiração e a tentativa de controlar do árbitro. As imagens que se seguiram são aquelas que permanecem mais ligadas ao ano.
Um homem duro a chorar (Camacho), vários jogadores com as mãos na cabeça e abraçados, os médicos a tentarem reanimar Fehér, as bancadas adversárias a gritar em uníssono pelo mesmo nome. Em vão. Pela rádio chegou a informação fria e seca da morte aos 24 anos jogador húngaro do Benfica Miklos Fehér.
O país entrou em luto. O Benfica tornou a camisola 29 eterna. As cerimónias fúnebres decorreram no átrio principal do Estádio da Luz, onde a urna do jogador esteve exposta para receber milhares de condolências, e terminaram em Gyor, na Hungria, terra natal de Fehér. O silêncio, as lágrimas, o preto, os rostos fechados foram as notas dominantes dos primeiros tempos de 2004. «Mindõrõkké» (Até breve).