Em finais de Junho de 1974, após o final da época futebolística, a secção de futebol da Associação Académica de Coimbra (AAC) anunciou a sua extinção. Na sequência desta baixa entre as equipas participantes no Nacional da I Divisão surge o Clube Académico de Coimbra (CAC), cujos constituintes eram praticamente os mesmos da AAC e que queria ocupar directamente a vaga desta no principal escalão do futebol português.
Ficou a faltar a confirmação legal; os afectos ao Académico bradavam pela possibilidade da transferência de posições; a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) negou a passagem jurídica da secção de futebol da AAC para o CAC. Coimbra ficou em polvorosa e Jorge Fagundes, o presidente da FPF nessa altura, não deixa de classificar a questão como «um problema coimbrão». «A população de Coimbra e os estudantes em particular exigiram a extinção da Académica, que era uma parte da AAC. Foi feito, a federação nada teve a ver com isso e, a partir de determinada altura, apareceram pessoas ligadas ao antigo futebol da Académica a quererem fundar um clube novo, o Académico», recordou para o Maisfutebol.
A partir de então, o caso passou a ser resolvido a nível jurídico, a partir da primeira decisão federativa. «A federação não aprovou essa mudança, achou que era uma mudança artificial e que não tinha razão de ser. Se aparecia um clube novo, o Académico, tinha de ir para os distritais e disputá-los», esclareceu Jorge Fagundes. A decisão da FPF passou então a ter como destino o(s) recurso(s) para o Conselho Jurisdicional e (se necessário) para o Conselho Superior de Justiça, enquanto se ia inaugurando a sede do novo CAC e anunciando a lista (única) para as eleições dos órgãos sociais.
Em Agosto, o Conselho Jurisdicional nega provimento ao recurso pelo CAC da decisão da FPF, entre pedidos de justiça e ameaças de boicote à Volta a Portugal em bicicleta pelas gentes de Coimbra e a realização das eleições do Académico, com José Júlio Martins Couceiro como presidente da direcção. Restava agora ao CAC recorrer para o Conselho Superior de Justiça. O que aconteceu e, ainda antes de este mês terminar, a sentença foi tomada: o Académico ficou com o direito de participar no Nacional da I Divisão da época 1974/75.
Apesar da posição contrária, «a federação teve de respeitar o que foi deliberado pelo Conselho Superior de Justiça e o Académico passou a ocupar o lugar da Académica» contou o antigo dirigente. «Foi realmente uma batalha jurídica, em que a posição da federação foi vencida», relembrou com um magnânimo fair-play Jorge Fagundes.
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