A Liga Portuguesa de Futebol Profissional assinalou em 2003 os 25 anos de existência, ou seja, comemorou as bodas de prata da sua fundação em 1978. A ideia de um organismo que representasse os clubes (como entidade independente da federação) nasceu, todavia, alguns anos antes: Mais propriamente, esta ideia nasceu ainda antes da Revolução de 25 de Abril, logo nos primeiros dias do mês nesse ano de 1974.
A primeira voz a ser ouvida no sentido da criação desta associação clubística foi a de Jorge Fagundes, o presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) a partir de 1974, e que colocou o assunto em debate no discurso de tomada de posse. Esta liga de clubes (na altura enunciada como «Grémio») surgiu, no entanto, numa conjuntura (especialmente desportiva) muito particular e como uma necessidade de resposta à disputa de então com os jogadores. Eram tempos em que os futebolistas (mais bem organizados em função dos objectivos através de um sindicato já constituído) reivindicavam o termo do «direito de opção» e a criação de um contrato colectivo de trabalho. [ver artigos relacionados]
«Estamos a falar de antes do 25 de Abril [de 1974], de um contexto social e também desportivo muito especial. Apercebi-me de que os jogadores estavam a organizar-se (o profissionalismo tinha começado há pouco) e era importante (havendo profissionalismo) que existissem duas vozes: uma que representasse os clubes e outra que representasse os jogadores», recordou Jorge Fagundes para o Maisfutebol.
O antigo líder da FPF mantém a convicção demonstrada na época de que «não cabe à federação esse papel» de representação de classes profissionais, pois, «a federação organiza desportivamente o futebol e os campeonatos, mas não tem funções de associação patronal, que na altura se chamava Grémio». «Defendi, portanto, logo antes do 25 de Abril (talvez com alguma antecipação mas que parece que depois veio a dar certo) a necessidade de haver do lado dos clubes uma organização de classe», relembrou Jorge Fagundes, «uma organização profissional que negociasse com os jogadores», explicando as suas razões: «À federação não competia isso, nem eu gostava dessas funções e interessava-me apenas a organização das provas desportivas.»
Uma tranquilidade posta em causa pela «mudança»
A necessidade de uma liga que pudesse dar corpo à defesa dos clubes face às reivindicações do Sindicato do Jogadores estava, no entanto, aos olhos de todos, como o próprio futebolista do Benfica, na altura, António Simões reconheceu ao Maisfutebol: «É a constituição do nosso sindicato que leva os clubes a reorganizarem-se nesse campo da lei do trabalho. [Os clubes] viveram sempre muito tranquilos porque a lei esteve sempre do lado de lá; e, quando são confrontados, não estão preparados. É aí que os clubes se organizam.»
Da mesma forma, Jorge Fagundes resumiu essa necessidade tanto na sua antecipação como nos resultados verificados: «Preconizei o que veio a acontecer: a necessidade de os clubes se organizarem como associação de classe; tanto assim foi que a primeira portaria da regulamentação do trabalho dos jogadores de futebol foi negociada pouco depois do 25 de Abril». O direito de opção, por exemplo, viria a ser abolido posteriormente e as negociações entre jogadores e clubes foram chegando a planos de acordo, mas, como lembrou António Simões, a democracia portuguesa era jovem, «houve alguma falta de equilíbrio» e «quase uma passagem de oito para 80». «Antes [do 25 de Abril de 1974] não tínhamos direitos nenhuns; depois, passámos a ter todos», exemplificou o antigo capitão do Benfica.
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