O regresso do Sporting à competição depois do 25 de Abril de 1974 aconteceu dois dias depois da Revolução. «Foi um jogo com o Belenenses, em Alvalade, para a Taça. Ganhámos 1-0. Nós jogámos a uma quarta-feira [na Alemanha Oriental, na altura, República Federal Alemã], o 25 de Abril foi a uma quinta e nós tínhamos jogo com o Belenenses no sábado» contou ao Maisfutebol Vitorino Bastos, lembrando também o célebre telefonema entre João Rocha, o presidente do Sporting na época, e o Chefe de Estado, o general Spínola, a que se atribui a celeridade com que os leões conseguiram atravessar a fronteira de Espanha em direcção a Lisboa.
Para quem não teve oportunidade de assistir a um jogo de futebol num país saído dois dias depois de uma revolução, em Portugal o Sporting-Belenenses decorreu sem sobressaltos de maior, pois, como recordou Bastos, «até houve ameaças de bombas, mas nada aconteceu». «Aconteceu simplesmente que o estádio estava quase vazio» disse o antigo defesa leonino, explicando Fernando Tomé, seu companheiro de equipa que, pouco a pouco, «as pessoas voltaram a ir ao futebol». «Houve um período em que se quis fazer crer que o futebol era nefasto para vida social dos países, mas não o conseguiram», referiu o antigo médio.
A camisola de Yazalde
Em Maio, o Sporting sagrou-se campeão nacional ao vencer no Barreiro (3-0) numa última jornada antecedida por uma ameaça de greve dos árbitros [ver artigos relacionados] e a festa do título, «essa, fez-se», recordou Tomé para o Maisfutebol. O médio sportinguista foi convocado, mas acabou por não se equipar, pois foi o 17.º jogador da ficha de jogo, mas a família Tomé guarda ainda uma recordação que o ambiente de festa e a invasão, mesmo que pacífica, do relvado não conseguiram roubar. «O meu irmão guarda religiosamente a camisola da primeira parte desse jogo do falecido Yazalde [sagrado o melhor marcador de sempre dos campeonatos europeus, com 46 golos], que ma ofereceu quando chegou ao túnel», confessou Tomé.
«Da camisola de Yazalde que desapareceu no calor dos festejos não sei onde anda», revelou como descrição fiel de um jogo em cujos últimos minutos a multidão à volta das linhas do campo era tal e estava tão perto que os bancos das equipas estavam como que diluídos na massa popular. Um cenário de festa que se repetiu cerca de um mês depois, já no mês de Junho de 1974, quando o Sporting conquistou a Taça de Portugal batendo o Benfica na final do Jamor (por 2-1, após prolongamento).
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