O ano que se seguiu à Revolução de 25 de Abril de 1974 foi bastante agitado social e politicamente na(s) tentativa(s) do estabelecimento da Democracia. O antigo capitão do Benfica António Simões viveu bem de perto essas duas novas realidades portuguesas ao candidatar-se como à Assembleia Constituinte como independente pelo CDS, pelo círculo dos emigrantes nos Estados Unidos. O então também futebolista acabou por ser eleito em 1976 (caso inédito em Portugal), mas pode dizer-se que a sua eleição como deputado não foi fácil e livre de espinhos.
«Só porque se vivia um período revolucionário e porque ser de esquerda era montar o cavalo certo, sofri com isso», contou Simões ao Maisfutebol explicando que «não era fácil tomar uma posição diferente daquela que era moda». O exemplo foi recordado: «Logo a seguir ao 11 de Março de 1975 fui fazer um jogo [Benfica-CUF, no Estádio da Luz] e tive milhares de pessoas contra mim. Tive de viver com algum cuidado.»
«Percebi na massa associativa do Benfica uma atitude que era a do Pais. Isso revelava que não sabíamos muito viver em democracia», recordou Simões mostrando que essa era, assim, mais uma razão que motivava as suas convicções: «Quando estamos conscientes do que é correcto, dos nossos princípios e dos nossos valores não temos que ter receio de nada», assegurou.
«Candidatei-me como independente, nunca me filiei em nenhum partido, mas, na altura, não era bem aceite [não ser de esquerda]. A legitimidade e o direito de escolha eram restritos, pelo menos publicamente, como eu o fiz», lembrou Simões referindo as razões que o motivaram: «Havia princípios e valores democráticos que queria defender e, na altura, entendia que havia uma esquerda que não o fazia (digo uma porque havia outra que o fazia.»
Saída para os Estados Unidos e eleição em Portugal
O que não era «uma questão de satisfação pessoal, mas de coerência» levou Simões a tomar decisões importantes. «Isso foi um pouco responsável para que eu decidisse também terminar a minha carreira em Portugal. Depois do último jogo do campeonato [1974/75] resolvi emigrar para os Estados Unidos, em Maio de 1975.» «Acabei por ser eleito em 1976 e estive na Assembleia Constituinte durante três anos», recordou como resultado da perseverança nas convicções políticas.
«Foi uma experiência muito interessante, mas ainda estava em actividade [futebolística] e confesso que foi difícil conciliar [as duas]. Depois decidi ficar a viver nos Estados Unidos e era incompatível. Mas foi uma experiência marcante», revelou sobre uma paixão que ainda hoje mantém: «É algo de mim: Tenho qualquer coisa cá dentro que me puxa para a vida política.» «Não sou de nenhum partido. Sou da combinação dos valores democráticos com a justiça social. Se isto é de algum ou de todos, então, sou desse ou de todos», concluiu o antigo futebolista e político.
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