A revolução chegara de surpresa nessa manhã de Abril e nos primeiros dias Portugal parecia estar ainda a apreender o significado desse dia e a aprender a viver em liberdade. O «Verão Quente» ainda estava longe e à medida que os dias passavam e que a certeza de um pais democrático ganhava força, as manifestações de alegria iam surgindo. Tímidas, primeiro, eufóricas depois, como se veria no dia 1º de Maio. O mundo do futebol não ficou imune a esta onda de felicidade e associou-se também à mudança que se instalava.
Estádio Municipal de Coimbra, 6 de Maio de 1974. Antepenúltima jornada do campeonato. A Académica, que durante anos fora uma das vozes mais inconformadas contra a ditadura, recebia o Sporting. Nesse dia, os militares entraram em força no estádio, mas não para reprimir. Foram convidados da Briosa e encheram completamente as pistas que circundavam o relvado do Municipal. As fardas não eram sinónimo de intimidação, mas sim de alegria partilhada. Dizem os jornais que nesse dia até havia gente a ver o jogo nos postes de iluminação, mas que ninguém se importou com isso. Os leões venceram por 3-1.
Uma semana depois, o Sporting recebeu o Olhanense em Alvalade. Nova vitória sportinguista, desta vez por 5-0, mas esse jogo ficará para a história pelos momentos que antecederam o apito inicial: os jogadores da equipa da casa ofereceram cravos vermelhos e cachecóis do clube aos soldados e marinheiros que nesse dia estavam no estádio e que tinham entrado gratuitamente. Mais uma homenagem aos homens que tinham possibilitado o aparecimento da Democracia.
Curiosamente, os jornais, até há pouco reprimidos pela censura, davam largas à sua imaginação e iam buscar ao vocabulário revolucionário tão em voga na época a inspiração para os seus títulos. «Dos cravos vermelhos ao Carnaval verde», lia-se por cima da crónica desse Sporting-Olhanense. O título do Benfica-Barreirense (4-0) era ainda mais elucidativo: «Não houve força contra a resistência».
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