Em finais de Agosto de 1974, o sorteio do Nacional da I Divisão sucedeu a uma Reunião Extraordinária do Congresso da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) na qual foi decidido o alargamento de 16 para 20 clubes participantes no principal escalão do futebol português, que estava prestes a começar com a temporada 1974/75.
Rezam as crónicas da altura que o alargamento tinha sido proposto pelas Associações de Futebol de Aveiro, Porto e Setúbal, cujos clubes associados, Beira Mar, Leixões, Montijo e Barreirense, respectivamente, estavam na altura da proposta em risco de despromoção. No final do campeonato precedente, apenas os aveirenses se salvaram da descida, mas o facto que, independentemente de tudo, prevaleceu foi a aprovação da medida. Com a veemente oposição da Associação de Futebol (AF) de Lisboa, que deixou implícita a impugnação do referido Congresso.
O presidente da FPF na época, Jorge Fagundes, contou ao Maisfutebol que foi «uma das pessoas que mais se bateu contra esse alargamento» na noite da Reunião, mas a proposta tinha passado e a impugnação do Congresso foi requerida pela AF Lisboa. Mas antes de este protesto ter tido resposta, «esse alargamento não foi permitido pelo próprio Governo». «Foi o secretário de Estado dos Desportos [e Acção Social], o Dr. Avelãs Nunes, que o proibiu», precisou Jorge Fagundes.
«Apesar de não ser a favor que o Governo se imiscue no futebol, este era um caso de moralidade. Era uma imoralidade o que se estava querer fazer ao futebol, porque era uma regra com destinatário. Era um alargamento para defender interesses de clubes que tinham descido. Nesse Congresso, uma das coisas que disse foi Acho mal, mas posso admitir o alargamento para o futuro. Agora, para beneficiar o clube A, B e C, sou completamente contra!», recordou com viva lembrança o antigo dirigente, não deixando esconder a vivacidade da memória ao ser activada pelo significado do episódio.
«Fui vencido no congresso, mas, depois, o Governo impôs-se e deu-me razão», reforçou, mas sem deixar de referir a excepcionalidade da ingerência, exactamente para marcar também a importância da causa defendida: «É claro que estas intervenções do Governo no futebol não são boas. Mas, naquele caso, excepcionalmente, penso que foi uma boa decisão.»
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