Protagonista principal do triunfo do Benfica em Moreira de Cónegos, para a Taça de Portugal, Matic relançou o debate: é ou não melhor do que Javi García? Avanço já com a minha opinião: não vejo o sérvio a ter a mesma influência que o espanhol tinha nas «águias», mas também não sei se isso significa que é menos jogador.

Na verdade tenho dificuldade em fazer uma comparação direta. Tudo depende do que se pretende. Se a ideia é ter um «trinco», um único jogador à frente da defesa, então o voto seria para Javi. Se a equipa precisa de alguém com maior raio de ação, então Matic.

Javi era o pilar que segurava um Benfica que, sob o comando de Jorge Jesus, ganhou vertigem ofensiva, que aposta forte no poder de fogo no ataque. E com o espanhol a formar um tridente sólido com os centrais, o Benfica dava-se ao luxo de lançar seis ou sete jogadores para o ataque (quantas vezes se via Maxi e Coentrão subir em simultâneo?).

Com Javi não havia passos desnecessários. Sabia sempre onde estar. Ou a fechar a porta ao contra-ataque adversário, evitando que entrasse em zona reservada, ou recuando para o eixo da defesa e assim libertar os centrais para as dobras aos laterais (o espanhol não fazia muito esse papel). Também na saída de bola aparecia muitas vezes entre os centrais, reforçando a primeira fase de construção.

Matic tem características diferentes. É possível que o tempo cimente rotinas de «6», mas por agora é um «8». E por isso, se a equipa quiser atirar-se de cabeça para o ataque, não terá a mesma estabilidade na retaguarda (cumpre o papel, sem dúvida, mas não é a mesma coisa). O sérvio não consegue fixar-se tanto à frente dos centrais. Aparece mais nas alas, a ajudar os laterais. Adianta-se mais no terreno, a participar nos ataques, aspeto em que é melhor do que o antecessor.

E a verdade é que, no cenário atual, talvez seja isso de que a equipa precisa. Consequência das saídas de Javi García, precisamente, e de Witsel. E também dos problemas físicos de Pablo Aimar. Com o argentino em campo faz mais falta um «guarda-costas» espanhol. Com Enzo, ou eventualmente Carlos Martins, talvez um parceiro sérvio, mais ao lado.

P.S. (para seguir): Abdi chegou a Portugal quase no anonimato, mas em poucos meses o extremo nascido na Somália mas criado entre a Noruega e a Inglaterra é uma das principais revelações da época, com quatro golos na Liga e um na Taça de Portugal. Com apenas 24 anos já justificou ser seguido com muita atenção, pela irreverência que dá ao jogo. Não é apenas velocidade no contra-ataque, é também qualidade no 1x1 e boa finalização.

«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.