O trajeto de Paulo Fonseca no FC Porto tem sido marcado por muitos desvios. Esses «ziguezagues» no caminho têm mostrado algum desnorte, mais até do que a viral confusão com o nome do adversário europeu.

Desde logo um desvio na postura perante a comunicação social. O Paulo Fonseca da gravata azul é muito diferente daquele que víamos na época passada de boné na cabeça. E mais cedo ou mais tarde o técnico perceberá que nada ganhou com o desvio seguido. Mas isso é outra questão, que não é por isso que a bola deixa de entrar.

Taticamente falando, Paulo Fonseca decidiu desviar-se daquele que era o ADN do FC Porto nos últimos anos. De sucesso, recorde-se. Inverteu o triângulo de meio-campo mas a solução não funcionou. Ainda hoje esse problema parece estar por resolver. Até porque os últimos jogos têm mostrado que esta mudança tática não deu maior solidez defensiva à equipa.

Importa trazer aqui para a equação outras responsabilidades, mas já lá vamos. É que se Paulo Fonseca tem insistido no modelo, não insiste muito nos nomes.

Quintero chegou a ser um salvador, mas em 2014 ainda nem esteve em campo o tempo equivalente a um jogo completo. Licá começou a época em grande plano, mas no início de outubro já tinha perdido o lugar. Kelvin foi recuperado a dada altura, mas rapidamente «desapareceu». Maicon chegou a relegar Otamendi para o banco, para agora ser suplente de Abdoulaye, recuperado do empréstimo ao V. Guimarães no último dia do mercado.

E depois Carlos Eduardo, porventura o exemplo maior. Ou pelo menos o mais atual. Pouco ou nada contou até aos últimos dias de 2013, mas depois apareceu no «onze» para dar um «upgrade» à equipa. Lesionou-se frente ao Estoril, na Taça de Portugal, e uma paragem de duas semanas parece ter sido suficiente para perder o lugar.

Mudanças de opinião em curto espaço de tempo. Demasiadas oscilações no estatuto dos jogadores, que ajudam a explicar que poucos ou nenhuns elementos do plantel se tenham valorizado na presente temporada.

Claro que Paulo Fonseca não pode, no entanto, assumir outras responsabilidades que não lhe pertencem. Nomeadamente a forma como a SAD não acautelou devidamente a saída de elementos preponderantes como Moutinho e James. Com a saída de Lucho no mercado de inverno, o atual técnico ficou apenas com um terço do meio-campo fundamental de Vítor Pereira, e mesmo essa parte, que corresponde a Fernando, esteve em risco de perder.

Fonseca não pode ser responsabilizado também pelo desvio da SAD em relação ao valor do plantel, que apresenta indesmentíveis lacunas, e que é claramente inferior ao do principal rival.

Podia até estar avisado, mas não pode arcar com a responsabilidade. Ainda que seja inevitável esperar mais do trabalho de um técnico que, em todo o caso, deve ter crédito até final da época. Até pelo que ainda pode conquistar.

«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter