Os dias que antecederam o jogo com o Benfica, que acabou por decidir o título, foram de rebelião no F.C. Porto. O encontro da Luz acabou por não ter José Maria Pedroto no banco, substituído poucos dias antes pelo adjunto António Morais, que se estreou no clássico com um empate que entregou o título ao rival de Lisboa. Na base da saída do treinador esteve a incompatibilidade entre Pedroto e o plantel. Sempre com a cobertura do presidente Afonso Pinto de Magalhães, que acabou por despedir o técnico.
Há muito que os jogadores do F.C. Porto não achavam piada ao estilo disciplinador do treinador. No final de um jogo na Luz, terminado em derrota por 0-3 em jogo da Taça de Portugal, Pedroto obrigou todos os seus pupilos a permanecerem em estágio, no Lar do Jogador e em regime de clausura, até ao jogo seguinte. Custódio Pinto, Américo, Gomes e Alberto desobedeceram, porque não podiam deixar os negócios ao abandono. Pouco tempo depois, o presidente chamou os líderes da rebelião para um jantar íntimo.
O pedido de demissão não aceite pelo prazer de poder demitir
Ao todo participaram no repasto com Pinto de Magalhães dezasseis atletas. No final do jantar, quando chegaram ao Lar do Jogador, o adjunto Morais manda os atletas para a cama, porque já eram horas disso, ordem que Atraca não aceitou, dizendo que ainda não tinha feito a digestão e que se o adjunto quisesse podia ir fazer queixa ao presidente. Pinto de Magalhães, colocou-se ao lado do jogador, dizendo que ele tinha jantado tarde. Pedroto achou que aquele desrespeito era a gota de água e apresentou a demissão. O presidente não a aceitou, mas acabou por despedir o treinador poucos dias depois. Pedroto achou que a recusa em aceitar o pedido de demissão foi só para ter o prazer de o demitir depois. António Morais é promovido a treinador, cargo que aceita com reservas.
No final do jogo da Luz, por exemplo, não resiste a dizer aos jornalistas que a equipa sentiu a falta de Pedroto. Certo é que Pinto de Magalhães não queria o treinador de volta às Antas. Convocou então os sócios portistas e garantiu-lhes que tinha demitido Pedroto porque ele era perturbado, falou de uma carta colectiva de todo o plantel envidada à Direcção a pedir a saída do treinador e pediu a solidariedade dos adeptos. Os associados responderam de pronto ao pedido e aprovaram uma moção que impedia Pedroto de entrar, como funcionário, nas instalações do clube sem autorização da Assembleia Geral. Mal imaginavam eles que aquele homem ainda lhes daria o título que quebrou um jejum de 19 anos e ainda lançaria as sementes de um F.C. Porto vencedor.