O apito final do belga Alexis Ponnet confirmou a festa portuguesa. Viena era azul e branca. Da Áustria para Portugal, de Portugal para o Porto, as celebrações multiplicaram-se e provocaram um São João antecipado na Invicta.

Há uma imagem incontornável após a vitória do FC Porto frente ao Bayern Munique: o capitão João Pinto agarrado à Taça, como se fosse apenas sua, garantindo o seu lugar na memória coletiva.

«Lembro-me de beijar a Taça e fomos a correr para o lado onde estavam os adeptos. Eu não dei a Taça a ninguém e mesmo quando queriam tirar fotografias com a Taça, eu dava-lhes uma asa e ficava a segurar na outra. Quando acabava seguia outra vez com ela. Até ao presidente fiz isso», recorda o antigo lateral direito, entre sorrisos.

João Pinto não quis partilhar o brinquedo novo com os amigos e ainda hoje há quem lamente esse facto, embora sem lhe atribuir grande importância, perante o cenário de conquista: «Fiz isso sem pensar no que estava a fazer. Costumo dizer que foi como se o meu pai me tivesse dado uma bicicleta nova e eu não a queria dar aos meus amigos. Ainda bem que fiz isso, porque passado 30 anos quando vão buscar uma fotografia é o João Pinto que aparece com a Taça na cabeça.»

«Se fosse hoje não fazia o mesmo, aliás, alguns meses depois ganhamos a Taça Intercontinental e praticamente não peguei nela. Até hoje não consigo explicar por que fiz aquilo em Viena», salienta.

João Pinto à conversa com o Maisfutebol/TVI

Frasco, por exemplo, garante não ter ficado chateado com o capitão, embora admita que esse gesto condicionou os festejos dos restantes jogadores: «Tenho pena só porque o João Pinto agarrou-se à Taça, nunca nos deixou tocar. Simboliza se calhar que era aquilo que ele mais queria, parecia um brinquedo. Todos ficamos felizes, não fiquei chateado com ele.»

«Ah, o João Pinto, o ‘tacinhas’, não a largou. Eu não tenho nenhuma fotografia sozinho com a taça! Saiu-lhe assim, mas está mais que perdoado, ninguém planeia aquilo, é o que dá no momento, é algo que não está escrito, nunca sabes o que vais fazer», reconhece Paulo Futre.

António André, ou apenas André, começou por se ajoelhar no relvado de Viena para interiorizar a dimensão do triunfo do FC Porto. Pela primeira vez, o clube portista chegava ao topo do futebol europeu.

«Não sou muito de euforias. Ajoelhei-me, caí por terra e pensei: ‘o que é que é isto? Sou campeão europeu.’ Eu lia jornais, revistas, colecionava cromos dos campeões europeus e hoje sou eu! Depois disso é que fui lá atrás correr, dei um beijinho na Taça e encostei-a ao coração», recorda André.

Frasco foi suplente utilizado frente ao Bayern Munique (substituiu Inácio ao minuto 65) e lembra que a vitória portista representou o início de uma nova era para o clube: «Foi uma coisa brutal, uma alegria enorme. Era abraços, beijinhos, valia tudo. Só o Benfica tinha conseguido ser campeão europeu e era um sentimento de alegria. A partir daí o FC Porto continuou a ir a finais e a conquistá-las na mesma.»

Jornal «A Gazeta dos Desportos» com a notícia da vitória portista

A equipa azul e branca abandonou o Prater para se dirigir para o aeroporto de Viena. O Porto estava à espera, acordado pela madrugada fora, ansioso para saudar os seus heróis. O povo juntou-se nos Aliados mas tinha destino traçado: o Estádio das Antas.

«Sinto mais a conquista pela forma como as pessoas nos abordaram depois. Tanto no aeroporto em Viena como aqui no Porto. Isso é que me emociona, a forma como nos acarinham. Aí sim caiu a ficha», salienta Eduardo Luís.

Jaime Magalhães e Frasco falam de um «mar de gente» de Pedras Rubras às Antas. A comitiva do FC Porto aterrou por volta das 4 da manhã e demorou perto de duas horas a chegar ao seu estádio.

«Foi um martírio, tínhamos um autocarro e demoramos imenso tempo, era um mar de gente por todo o lado, recorda Frasco, com Jaime Magalhães a lembrar-se de imediato do São João: «Foi tanta gente que parecia o São João. Desde o aeroporto do Porto até ao Estádio das Antas foi gente que nunca mais acabava. Chegar ao estádio, àquela hora, e ver o estádio quase completo foi uma alegria enorme.»

Eduardo Luís salienta que houve chegadas mais difíceis ao Porto, explicando depois porque é que a equipa não foi para o relvado das Antas.

«A chegada foi idêntica a outras. Uma vez ao vir de Aberdeen tivemos de ir para Lisboa porque as pessoas invadiram a pista! Desta vez estava previsto mostrar a Taça nas Antas mas quando chegamos ao estádio o relvado estava inundado, porque as pessoas foram para lá em vez de ir para a bancada. E nós mostramos a Taça do lado da bancada. Foi um momento fantástico», remata.

O FC Porto regressou a casa já com o sol bem alto e dormiu com a sensação de dever cumprido. Tinha cumprido o sonho, era hora de merecido descanso.

«Saí das Antas já às 9 ou 10 da manhã. Adormeci e quando acordei, já ao final da tarde, estava todo baralhado, tive de olhar para os jornais para perceber se era mesmo verdade, se não tinha sido um sonho. Mas não, era verdade, era mesmo campeão europeu», atira Paulo Futre.