O Maisfutebol desafiou os jogadores e treinadores portugueses que atuam no estrangeiro, em vários cantos do mundo, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:

PAULO MORGADO, MANAUS FC (BRASIL)

«Boa noite aos leitores do Maisfutebol,

Hoje escrevo com orgulho. O Manaus Futebol Clube tem poucos meses de vida e subir à primeira divisão do Campeonato da Amazóna era muito importante. Vencer o título foi ainda melhor.

Os outros clubes são do interior do estado e para chegar à capitão tinham de viajar de barco ou de avião. Os nossos adversários diretos, CDC Manicoré e Nacional de Borba, não têm condições financeiras para se deslocarem de avião. Por isso, vêem até Manaus de barco e chegam com natural desgaste.

Nós tivemos a vantagem de podermos ir de avião até ao interior da Amazónia. Agora conquistamos o título de campeão, é sempre bom. E pelos vistos, fui o primeiro português a ganhar um título no Brasil, algo que me deixa orgulhoso.

No penúltimo jogo, vencemos fora de casa o Nacional de Borba e garantimos a subida à Serie A. O estádio estava cheio e há uma curiosidade: setenta por cento dos adeptos eram mulheres.

No interior da Amazónia, há cerca de 20 mulheres para cada homem. Aqui em Manaus já não é tanto assim. Como isso acontece e não há mais nada para além do futebol, há muitas equipas de futebol feminino. Já fui ver um jogo e fiquei admirado com a qualidade delas.

Como expliquei antes, o Manaus FC tem uma boa capacidade financeira e até fomos em dois aviões para Borba. Isso faz toda a diferença.

No último jogo, precisávamos de apenas um empate para conquistar o título. Ganhámos por 4-1. O jogo tornou-se fácil para nós porque o CDC de Manicoré veio de barco, demoraram dois dias e meio a chegar.  Não têm dinheiro para vir de avião e não havia duas lanchas rápidas disponíveis. Tiveram de vir num barco grande, dois dias e tal sem treinar, a dormir em redes, não é nada fácil. Eu pelo menos não aguento dormir em redes, em 15 minutos fico cansado. Prefiro a cama. Resumindo: quando chegam a Manaus, chegam mortos, por assim dizer. 

O Amazonas é um dos maiores estados do Brasil e o futebol não é tão desenvolvido como em outros lados. Há poucos treinadores e têm pouca formação, porque para tirar cursos é preciso ir a Rio de Janeiro e São Paulo. Por isso, hoje em dia tenho uma boa reputação aqui, onde já estou há praticamente três anos. Também tenho cá família e já não me olham como alguém de fora.

Apesar de ter sido na Série B, conquistei um título, é um prémio e agora vamos tentar fazer um bom trabalho na Série A, andar nos três ou quatro primeiros lugares como aconteceu quando treinei o Fast.

O Princesa foi campeão e jogar no interior não é fácil, a pressão dos adeptos é enorme. Para além do Princesa, há também o Fast e o Nacional de Manaus, que investe muito. Pagam salários de 15/20 mil reais, ao nível de clubes da II Liga e da Liga portuguesa. Se conseguirmos andar perto deles, já é bom.

Até breve,

Paulo Morgado»