Eu sou do tempo da Liguilha. Sou também do tempo em que os miúdos jogavam à bola na rua, com duas pedras como balizas e do tempo em que os clubes não cobravam para ter crianças a jogar futebol.

Também sou do tempo em que as pessoas levavam o almoço para o trabalho, porque poucos tinham dinheiro para comer fora. Nesse tempo havia uma televisão por casa, se havia. Ter automóvel era um luxo e os transportes públicos escasseavam. Uns sapatos duravam eternidades.

Trinta e muitos anos depois, o país está como sabemos, as pessoas estão como sabemos e, em linha com tudo o que nos rodeia, os dirigentes de futebol querem trazer de volta esse momento mítico da nossa existência, a Liguilha.

Não percebo a indignação geral. Se estamos de volta aos anos 70/80 em tantos aspectos, por que não recuperar essa nobre instituição de tão gratas memórias (por favor, se se lembrar de algum jogo, deixe um comentário neste artigo), a Liguilha. Já ouço o entusiasmo dos adeptos, ansiosos por um memorável Desportivo das Aves-Feirense. Depois lembrem-me para meter um dia de férias.

P.S.: Alguns presidentes defendem que o alargamento trará aumento de receitas. Até falaram, pareceu-me, em mais quatro milhões de euros. Se eles tivessem alguma vez dado provas de boas contas, estaria sosssegado. Assim, temo que o equilíbrio só seja alcançado se os plantéis passarem a ter apenas quinze jogadores e as equipas imitarem a União de Leiria e passarem a entrar em todos os jogos com dois juniores e apenas seis profissionais. Será uma medida de austeridade capaz de fazer corar o nosso Ministro das Finanças.