O Real Madrid deu mais um show de futebol ofensivo na Alemanha, e nem é a primeira vez que o faz esta época. Os 6-1 em Gelsenkirchen entram diretos para a lista dos resultados mais dilatados da Liga dos Campeões, confirmando de caminho que a prova tem o melhor futebol do mundo, mas nem sempre com adversários em patamares próximos. E parece ser uma tendência. Nas duas últimas épocas houve nada menos que cinco vitórias pelo mesmo resultado, protagonizada por quatro gigantes: Real Madrid por duas vezes, mais Bayern Munique, Barcelona e Chelsea. Tantas em como todas as anteriores edições, um dado que acentua cada vez mais a ideia da Europa com uma elite restrita muito acima do pelotão, mesmo dentro da principal prova de clubes.

Este nível de goleadas é mais frequente na fase de grupos, mas também acontece assistirmos a um enorme desequilíbrio nas fases a eliminar, onde teoricamente já estão apenas as equipas mais fortes. Aqui vamos recordar precisamente esses jogos que acabam com resultados a fazer lembrar hóquei em patins, no futebol ao mais alto nível.

Nesta lista entram apenas jogos com resultados em que a diferença tenha sido de cinco ou mais golos, e que no total tenha havido pelo menos sete golos. Na era da Liga dos Campeões, ou seja, desde os anos 90, e apenas a partir da fase de grupos. Ficam de fora assim outros resultados ainda mais incríveis. Houve vários jogos com vitórias por 10-0 ou 10-1 nas qualificações e nas rondas a eliminar, no tempo da Taça dos Campeões Europeus. O Benfica, por exemplo, é ainda o clube que detém o recorde do resultado mais dilatado de uma eliminatória: 18-0 frente ao Dudelange (8-0 fora e 10-0 em casa), na primeira ronda da prova, em 1965-66. O Sporting também tem outro recorde, a maior goleada de sempre num jogo das competições europeias (16-1 ao APOEL), mas aconteceu na Taça das Taças.

Liverpool, até soaram alarmes na UEFA

Comecemos pela vitória mais dilatada de sempre na Liga dos Campeões. Assinou-a o Liverpool frente ao Besiktas: 8-0 , em novembro de 2007. O jogo contava para a quarta jornada do grupo A, o mesmo do FC Porto, que nessa noite venceu o Marselha e assumiu a liderança.

Os ingleses tinham perdido na visita à equipa turca na ronda anterior e partiam para esta jornada em maus lençóis no grupo. Nada fazia adivinhar o que aconteceu. Crouch abriu o marcador aos 19 minutos e a partir daí foi um festival, com tempo para um «hat-trick» de Benayoun, um bis de Babel, mais um de Gerrard e ainda mais outro de Crouch.

Foi de tal maneira que se levantaram suspeitas em redor do que aconteceu, com notícias de que tinha havido um número anormal de apostas num resultado dilatado. Michel Platini acabou por dissipar as dúvidas em dezembro, quando disse que essa partida não estava sob investigação. FC Porto e Liverpool seguiram em frente no grupo, os dragões cairam nos quartos de final frente ao Schalke e os ingleses foram até à meia-final.

8-3: «Nem que jogássemos mil vezes»

O resultado mais volumoso da história da Liga dos Campeões é outro, e também conta uma história imprevisível. O louco 8-3 entre Mónaco e D. Corunha na fase de grupos de 2003/04, lembra-se?

Mais uma vez, as duas equipas tinham-se encontrado 15 dias antes e foram os galegos a vencer, por 1-0. O D. Corunha chegava àquela noite de 5 de novembro de 2003 como uma das melhores defesas da prova, com apenas um golo sofrido. E depois aconteceu aquilo.

Rothen, aos 2 minutos, Giuly, aos 11m, Prso, aos 26m, e depois outra vez, aos 30m, em meia hora o Mónaco já vencia por 4-0. O Depor ainda reduziu, com golos de Tristan (39m) e Scaloni (45m), mas ainda antes do intervalo Prso completou o «hat-trick»: 5-2 no fim da primeira parte! Foi de tal maneira que o treinador do Depor, Javier Irureta, fez uma troca singular ao intervalo: mudou de guarda-redes. Fez sair Molina e entrar Múnua. Mas em quatro minutos o Mónaco acabou com as dúvidas: Plasil fez o 6-2 aos 47m, Prso completou o seu póquer aos 49m. Quando Tristán reduziu de novo, para um 7-3, este tornou-se o jogo com mais golos de sempre da prova (o recorde anterior era um 7-2 do PSG ao Rosenborg). Ainda houve mais um golo de Cissé, aos 67m, mas acabou aí. Uff.



Jorge Andrade jogou os 90 minutos dessa partida e na altura falou ao Maisfutebol, resumindo a sensação generalizada sobre o que aconteceu: «Se jogássemos mil vezes contra o Mónaco nunca mais aconteceria um resultado como este. Quem é que entra no jogo a pensar que o resultado vai ser 8-3? Ninguém pensa isso. Ainda para mais, nós com um empate estaríamos muito perto da qualificação. Mesmo assim fomos jogar de peito aberto. Aconteceu o que aconteceu. O problema foi termos sofrido golos muito cedo. Aos 15 minutos já estávamos a perder 3-0. Isso condicionou toda a estratégia.»

Esta é uma história de um resultado acidental, não de um encontro entre dois rivais de qualidade muito diversa. Tanto que, nessa época, Mónaco e Deportivo seguiram em frente na prova, até perto do fim. Os galegos até à meia-final, onde foram eliminados pelo FC Porto, os monegascos até à final de Gelsenkirchen, perdida frente aos dragões. 

Os sete do Marselha e os dois de Lucho

Houve de resto cinco jogos decididos por sete golos de diferença. Cinco vezes 7-0, um dos quais fora de casa. Em 2010/11, quando o Marselha foi à Eslováquia atropelar o Zilina. Gignac, autor de um «hat-trick», foi a figura do jogo, mas também houve, e muito, Lucho Gonzalez. O médio argentino, no Marselha entre passagens pelo FC Porto, marcou dois golos.


Zilina 0-7 Marseille by buzzensport

Também há um 7-0 já depois da fase de grupos: assinou-o Bayern Munique frente ao Basileia, em março de 2012, na segunda mão dos oitavos de final. Em casa, o Basileia até tinha vencido a primeira mão, por 1-0.

Sporting, o pesadelo 

O Bayern tem várias entradas nesta história dos recordes de golos. Uma delas com o Sporting. A eliminatória dos oitavos de final de 2008/09, pois, na única vez em que os leões chegaram a essa fase da prova. O Sporting de Paulo Bento tinha feito história, mas naquele dia 25 de fevereiro de 2009 viveu um pesadelo. Durou 41 minutos a resistência dos leões (carregue no link para ler a crónica do Maisfutebol). Quando Ribery fez o primeiro, a estratégia montada pelo Sporting ruiu e os alemães construiram aquela que já era a mais pesada derrota europeia em Alvalade. Mas piorou.



Na segunda mão, uma sucessão de erros do Sporting prolongou o descalabro. Um, dois, três do Bayern Munique, um grande golo de João Moutinho para deixar alguma boa recordação aos leões, mais um golo alemão antes do intervalo e outros três na segunda parte. Recorde aqui como foi. 7-1 era o resultado final, 12-1 o resultado combinado, o resultado mais dilatado de uma eliminatória na história da Champions. O Bayern, então treinado por Jurgen Klinsmann, foi eliminado na ronda seguinte pelo Barcelona de Pep Guardiola, que viria a ser campeão europeu, perdendo por nada menos que 4-0 a primeira mão dos quartos de final.

A primeira vez de Cristiano Ronaldo

Na história de goleadas há ainda uma vitória por 7-1 mais à frente na competição. Assinou-a o Manchester United frente à Roma, na segunda mão dos quartos de final da época 2006/07. É o resultado mais dilatado nesta fase, e teve muito Cristiano Ronaldo: foi aqui que o português se estreou a marcar na Liga dos Campeões (não contando com um golo na pré-eliminatória da edição anterior). Não um, mas dois, recorde aqui.



Há de resto várias vitórias por 6-1, mas fora de casa só o Real Madrid conseguiu. E o incrível é que já o fez por duas vezes, ambas esta época: estreou-se na prova a golear o Galatasaray na Turquia por esse resultado, agora foi fazer o mesmo ao Schalke. Brutal demonstração de força da máquina de golos merengue, a equipa mais goleadora em prova (26 marcados, contra 20 do segundo, o PSG), com Cristiano Ronaldo a liderar: os dois golos desta quarta-feira ao Schalke permitiram-lhe passar a liderar a lista de melhores marcadores, com 11 golos, mais um que Ibrahimovic.

As maiores goleadas da Liga dos Campeões

8-0 
Liverpool-Beşikta, Fase Grupos 06/07

8-3 
Mónaco-D. Corunha, FG, 03/04

7-0 
Juventus-Olympiakos, FG, 03/04
Arsenal-Slavia Praga, FG 06/07
Zilina- Marselha, FG 10/11
Valência-Genk, FG 11/2
Bayern Munique-Basileia, 1/8 11/12

7-1 
Manchester United-AS Roma QF 06/07
Bayern Munique-Sporting, 1/8 08/09
Dinamo Zagreb- Lyon, FG 11/12
Barcelona-Bayer Leverkusen, 1/8 final 11/12

7-2 
PSG-Rosenborg, FG 99/00
Lyon-Werder Bremen, 1/8 04/05

6-1 
Real Madrid-Ferencváros, FG 94/95
Real Madrid-Sturm Graz, FG 97/98
Rosenborg-Helsingborgs, FG 99/00
Marselha-FC Zurique, FG 08/09
Valência-Bursaspor, FG 10/11
Bayern Munique-Lille, FG 12/13
Chelsea-Nordsjaelland, FG 12/13
Galatasaray- Real Madrid, FG 13/14 17/09/13
Barcelona-Celtic, FG 13/14
Schalke- Real Madrid, 1/8 13/14

(vitórias fora a negro)