Fabrice Muamba nasceu de novo. A 17 de março de 2012, com a camisola do Bolton, sofreu uma paragem cardíaca no relvado de White Hart Plane mas conseguiu fintar a morte. Parou de jogar por aconselhamento médico e seguiu em frente.

«Passaram 48 minutos desde que ele colapsou no relvado até que chegou ao hospital. E outros trinta minutos depois disso. Ele estava, de facto, morto nesse período», admitiu Jonathan Tobin, médico do clube inglês, na altura.

Muamba parecia condenado. Recebeu dois choques de desfribilador no terreno do Tottenham, outro no túnel e mais doze na ambulância. Sobreviveu por milagre.



O encontro da FA Cup foi interrompido e tudo girava em torno da luta pela sobrevivência do jogador do Bolton. Quatro dias após o incidente, superando as expectativas, Muamba recuperava a esperança de uma vida normal.

A 16 de abril, praticamente um mês após a entrada no hospital, o atleta teve alta. Nada seria como dantes, ainda assim. Agora, tinha no seu corpo um cardioversor desfibrilador implantável.

Fabrice Muamba queria voltar a jogar futebol mas percebeu que isso não seria possível. Consultou vários especialistas até que, em agosto, anunciou o final da sua carreira.

«O futebol tem sido a minha vida desde a adolescência, amo o jogo e considero-me muito feliz por ter jogado ao mais alto nível. Mas, mesmo sendo esta notícia devastadora, tenho de agradecer a Deus por estar vivo»

Meses mais tarde, agora como ex-jogador de futebol, Muamba regressou a White Hart Lane. O reencontro com os adeptos do Tottenham, com os quais não tinha qualquer ligação afetiva, foi arrepiante.



Fabrice Muamba, que nascera no antigo Zaire e fugira com o pai para Inglaterra aos onze anos, teve de começar de novo. Uma vez mais.

Para trás ficavam o Arsenal, o Birmingham e o Bolton. Ficava igualmente a seleção inglesa, que representara até aos sub-21. Com 24 anos e uma vida ligada ao futebol, precisava de encontrar um novo rumo.

O futuro estava do outro lado das câmaras. Muamba começou a receber convites pontuais para comentar jogos e apaixonou-se. Nesta altura, estuda jornalismo desportivo na Universidade de Staffordshire.

Fabrice abraça a segunda oportunidade. «Tive de aceitar que não voltarei a jogar novamente. Li os jornais sobre o que aconteceu naquele dia mas nunca consegui ver as imagens. Agora, sou um simples adepto.»



«Estou feliz por continuar aqui e ter tempo para estar com a minha família, por exemplo. O futebol era um emprego mas quero arranjar outro. Estou a estudar jornalismo desportivo em todas as suas variantes e acho piada, gostava que mais ver mais ex-jogadores deste lado.»

No início de dezembro, Fabrice Muamba deu mais um passo em direção ao seu futuro. Nesta altura, é jornalista-estagiário na BBC North West Tonight.

O antigo jogador está deliciado com a experiência e já realizou a sua primeira entrevista. Na semana passada, esteve à conversa com o novo treinador do Bury, David Flitcroft. «Agora, quero ser jornalista e tenho de entregar-me a esta profissão com a mesma paixão com que abracei a carreira de jogador», remata. 

Pode ver a primeira entrevista de Fabrice Muamba aqui.