Diego Costa e Adnan Januzaj são dois dos homens do momento nestes dias mais recentes quer pela qualidade do futebol já confirmada, ou prometida, quer por estarem no centro de um tema quente da atualidade, quando a contagem decrescente para o próximo Campeonato do Mundo já não demora muito a começar. A naturalização de jogadores, a seleção que um jogador vai representar independentemente do seu país (de nascença, onde viveu mais anos...) não é um caso novo – longe disso –, mas ganhou nos últimos dias um destaque dado por vários interessados.

Luiz Felipe Scolari foi um dos últimos atores principais a fazer questão de tomar uma posição sobre o tema. Fê-lo quando sairam as primeiras notícias de que o brasileiro Diego Costa poderia representar a seleção espanhola. «A minha opinião sobre esse aspeto de naturalizar um jogador é que a FIFA está a voltar às regras das décadas de 1930, 1940 ou 1950, quando o Mazzola jogou pelo Brasil e pela Itália. Isso também aconteceu com outros jogadores (…) Acho estranho porque, daqui a um ano, dois anos ou cinco anos, provavelmente um país vai contratar 20 jogadores e montar uma seleção», disse Felipão em setembro último.

Vicente del Bosque também quer o avançado do At. Madrid na «Roja». A federação espanhola está no presente à espera que a confederação brasileira envie o certificado de que Diego Costa nunca fez qualquer jogo oficial pelo Brasil. O avançado que em Portugal jogou no Penafiel e Sp. Braga é desde junho cidadão espanhol e só foi chamado para a «canarinha» para dois particulares contra Itália e Rússia. As duas únicas vezes chamado por Scolari não foram jogos oficiais – por isso não contam para a FIFA nestes casos de mudança de seleção – e Diego Costa pode jogar pela Espanha.

O selecionador brasileiro está em vias de ficar sem este avançado, mas tem também razão quando lembra que estas situações não são de agora. Não são poucos nem pouco conhecidos os vários jogadores que desde os primeiros tempos do futebol trocaram de seleção ou país. Além do Mazzola referido por Scolari – mais famoso como Altafini – que defendeu o Brasil do Mundial de 1958 e a Itália de 1962, vários consagrados como dos maiores de sempre como Di Stéfano ou Puskas jogaram por mais de um país. Di Stéfano, inclusivamente, representou três: Argentina, Colômbia e Espanha. Puskas defendeu os escudos da Hugria e da Espanha.



Fica também desde já evidenciada uma outra tendência entre os países do futebol de topo. Itália e Espanha foram frequentes a adotarem nas suas seleções futebolistas de outros países. Exemplo da precocidade desta situação foi o que aconteceu do Mundial de 1930 para o Mundial de 1934. Três jogadores campeões do mundo pela Itália em 1934 eram argentinos de nascimento: um deles, Luis Monti, jogou a final do Mundial 1930 que a Argentina perdeu (para o Uruguai) e ganhou depois a final do Mundial 1934 pela seleção « azzurra» (frente à Checoslováquia).

Desde cedo aconteceram esta naturalizações e a marca de Itália e Espanha como países recetores mantém-se – como se vê – até hoje (o brasileiro Thiago Motta foi o último exemplo italiano). A marca do sentido oposto – a relativa aos exportadores – está do lado de Brasil e Argentina. Portugal, nos tempos recentes, também beneficiou da naturalização de jogadores em mais de uma ocasião – no caso, de futebolistas nascidos no Brasil. Deco, Pepe e Liedson colocaram futebolistas naturalizados nas convocatórias da Seleção Nacional desde 2003 até hoje. Deco e Pepe a partir do consulado de Scolari. Liedson foi convocado por Carlos Queiroz.

Estes processos – como se está a passar com Diego Costa e como foi exemplo já nesta quinta-feira o desmentido de Marquinhos - geram situações, às vezes, pouco consensuais. No caso de Deco em Portugal, na altura foi assumido o desacordo por algumas das principais figuras do futebol português em relação à entrada na Seleção de jogadores naturalizados. Figo, por exemplo, criticou o «precedente». Atualmente, na Inglaterra, foi Wilshere quem concentrou a condenação da possibilidade de o jovem Adnan Januzaj representar a seleção inglesa.

«As únicas pessoas que devem jogar por Inglaterra são cidadãos ingleses. Se uma pessoa viver em Inglaterra durante cinco anos, isso não faz dela inglesa«, afirmou nesta semana o jogador do Arsenal nas redes sociais; onde mais tarde fez também questão de frisar que não se referia ao jovem extremo do Manchester United.



Independentemente dos comentários de Wilshere, factual é o interesse de vários países em Januzaj. Os selecionadores mostram atenção aos novos talentos e estão atentos ao que permitem os regulamentos da FIFA para reforçaram as seleções que orientam. Ainda nesta quinta-feira Berti Vogts revelou que quando era selecionador da Escócia tentou angariar Wayne Rooney quando este tinha 16 anos – o atual jogador do Manchester podia jogar pela Escócia por ter uma avó escocesa.

E é devido a vários fatores já referidos para além da naturalidade, como a cidadania atribuída por um país, ou a ascendência, por exemplo, que Januzaj é neste momento olhado com interesse por vários países. A Bélgica mostrou interesse oficial ao querer contar com o jogador de 18 anos nos dois próximos jogos que fecham a qualificação para o Mundial 2014, com a Croácia e o País de Gales.

O selecionador belga, Marc Wilmots, conta a resposta que lhe foi dada... pelo clube do jogador nascido em Bruxelas: «O Manchester United disse-me que Januzaj ainda não tomou uma decisão para jogar por uma equipa nacional... nem por qualquer país.» O futebolista agora com 18 anos pode, quando escolher, representar as seleções da Bélgica, da Albânia, da Sérvia, do Kovoso (quando este país fizer jogos oficiais)... e da Inglaterra (se lá permanecer como cidadão até 2018).

O treinador do Manchester United, David Moyes, já revelou que a federação inglesa já tinha abordado a possibilidade de o belga filho de pais albaneses do Kosovo representar a Inglaterra. O selecionador inglês, Roy Hodgson, não deixou de frisar que é preciso «debater antes» de se começar a naturalizar jogadores, mas reconheceu que estão «atentos» ao «verdadeiro talento» de Januzaj. As regras estão estabelecidas. A escolha é dele(s).

Januzaj: o próximo génio?