Os sobrecarregados calendários competitivos apareceram de forma demolidora no futebol dos últimos anos. Os interesses económicos prevaleceram sobre os desportivos e humanos. Treinadores e dirigentes das equipas mais poderosas começaram a tentar encontrar soluções que lhes permitam continuar a competir em todas as frentes e ao mais alto nível.

Quase em simultâneo, Louis Van Gaal em Barcelona e Alex Ferguson no Manchester United foram os pioneiros da «teoria da rotatividade», recém-chegada a Portugal. Da minha experiência nessa implantação falarei agora, deixando sinais para reflexões posteriores.

Barcelona, Abril de 1999, fase final da citada época, título de campeão espanhol conquistado, início da planificação da temporada seguinte. Dois objectivos definidos: o tricampeonato e a Liga dos Campeões.

Decisões-chave:

1- Plantel de 22 jogadores, dois por posição, com qualidades similares.

2- Pré-temporada realizada com a especificação de duas equipas diferentes, cada equipa com um treinador-adjunto, cada equipa a realizar quarenta e cinco minutos de cada jogo particular.

3- Os treinadores das respectivas equipas trabalhavam especificamente com os seus jogadores de forma diária, seguindo o modelo de jogo uniformizado para todas as equipas do clube, sob o controlo do director técnico Louis Van Gaal.

4- Na última semana da pré-temporada, análise detalhada dos comportamentos e capacidades com a decisão respeitante ao melhor jogador para cada posição. Definição clara da equipa-base titular e da alternativa para a rotação.

Assim iniciámos o trabalho, assim começámos uma dura e competitiva preparação que nos conduziu a uma equipa-tipo:

Hesp; Reiziger, Abelardo, Frank de Boer e Sergi; Guardiola; Luis Enrique e Cocu; Figo, Kluivert e Rivaldo.

E, consequentemente, à equipa das opções para a rotatividade:

Arnau;Puyol, Dehu, Bogarde e Zenden; Xavi; Ronald de Boer e Litmanen; Simão, Dani e Gabri.

Iniciámos a epoca de forma demolidora e utilizando predominantemente as primeiras opções. Fomos líderes da liga espanhola, também os únicos a vencer consecutivamente os dois grupos da Liga de Campeões que nos conduziram aos quartos-de-final sem derrotas, e com performances incríveis em Wembley, nas Antas e em Florença.

Chegámos a Março e aos momentos-chave das duas competições. Chegava também o momento de aplicação das rotações.

Liga dos Campeões privilegiada, Chelsea eliminado nos quartos-de-final, chegada à meia-final, pontos perdidos na liga nacional. Foco absoluto na Europa, liga espanhola perdida pela perda de qualidade nas já referidas rotações. Quarta-feira europeia,a final de Paris a espreitar, noite trágica em Valência, derrota 4-1, adeus Liga dos Campeões. Zero títulos conquistados, frustração total no clube e na cidade, treinador na rua e demissão do presidente.

Se alguém pensa em rotações fá-lo com legitimidade. Mas que tenha presente os riscos inerentes!