Se pensa que Abdoulaye é grande (com 1, 97 m é o jogador mais alto da Liga, juntamente com Yero, do Gil Vicente, e Fabiano, do Olhanense), então saiba que o jovem central da Académica tem um irmão, também desportista, que ainda lhe ganha. Mede qualquer coisa como 2,01 m, podia jogar basquetebol, mas, tal como o mano, preferiu os relvados. Chama-se Mamadou Ba e é o guarda-redes da selecção do Senegal.

O defesa descoberto há quase três anos pelo F.C. Porto no Senegal nasceu numa família de gigantes. «Às vezes, quando entro numa loja olham-me de baixo para cima como se fosse alguém diferente quando sou perfeitamente normal. Tenho sorte de não ter pés muito grandes [calça o 45] mas ao nível da roupa sinto dificuldades para encontrar os tamanhos certos», confessa, em jeito de desabafo.

A estatura levou-o, naturalmente, ao basquetebol. Acumulou as duas modalidades até aos 16 anos, mais a escola, até ao momento da escolha inevitável. Foi quando começaram os problemas. «Toda a gente me queria afastar do futebol. Achavam que não conseguiria por causa do meu físico. Até o meu pai queria que ficasse do basquete. Quando ia para os treinos, tinha de o fazer às escondidas.»

As resistências acabaram quando o jovem Abdoulaye conseguiu provar à família que seria capaz de triunfar nos relvados. «Foram momentos difíceis porque ninguém me apoiou. Tive de fazer o meu próprio caminho, com base nas minhas convicções. Agora, já aceitaram a ideia. Não é qualquer um que consegue um contrato profissional com o F.C. Porto...», conta, orgulhoso do seu percurso.

Aliás, o senegalês não esquece aquilo que aprendeu a atirar ao cesto e da forma como a modalidade o ajudou. «Ao nível dos apoios, da coordenação, da capacidade para conseguir virar-me rapidamente, são tudo aspectos que desenvolvi num desporto e acabaram por ser úteis no outro», refere, deixando claro que agora só pratica algum basquete de rua quando está de férias no país natal.

Treinou com Pedro Emanuel

Quando chegou ao Dragão, ainda com 17 anos, Abdoulaye pensava que não passaria nos testes e já se mostrava inclinado a aceitar uma proposta do Estrasburgo, para jogar na Liga francesa. Mas a perspectiva de poder assinar contrato profissional, como acabou para fazer depois de seis meses nos juniores, falou mais alto.

«Estive no plantel na última época de Jesualdo Ferreira mas não pude jogar sobretudo devido a uma lesão. Na época anterior, ainda treinei com o Pedro Emanuel, actualmente o meu treinador na Académica. Foi uma temporada difícil, porém positiva porque pude aprender com grandes jogadores, sobretudo na minha posição, Bruno Alves, Rolando...», conta, deixando escapar o desejo de poder voltar, para ficar, ao seio do F.C. Porto.

Coimbra serve de lição

Em Coimbra, o imponente central quer continuar a progredir e, para já, não está a dar mal, ao lado de Markus Berger no comando da defesa estudantil. «Quero mostrar o meu valor e triunfar, como qualquer africano que vem para a Europa. Gosto de ouvir os conselhos de toda a gente, aprender e evoluir para poder chegar ao topo. Não quero queimar etapas, vou procurar subir progressivamente, passo a passo, com muito empenho e dedicação. Só o trabalho compensa», assevera.

Habituado a ser o mais alto pelas equipas por onde passa, Abdoulaye revela, por vezes, alguma dificuldade para interagir com os colegas mais pequenos. «Relação com o Marinho (1, 66 m) ? Excelente. Mas às vezes não o consigo ver. Tenho de lhe gritar: onde estás? E afinal estava mesmo atrás de mim. Depois ele pergunta-me: como foi possível cresceres tanto? O quê que os teus pais te deram a comer quando eras miúdo[risos]?»