Um treinador que esteve presente. Presente nas piores imagens do mundo: as guerras. Casimiro recordou, com alguma relutância, alguns momentos inacreditáveis nos primeiros anos fora de Portugal, originados pelos vários conflitos de guerra nos países onde treinou. Hoje, tudo é diferente, o futebol passa ao lado da guerra para o treinador português, talvez por estar habituado.

«Passei situações difíceis. Lembro-me que quando estava a treinar uma equipa do Kuwait vi passar à minha frente o maior exército do mundo. A mim não aconteceu nada, deixei de treinar e saí do país. Agora já lido muito melhor com isso, nem me lembro que há guerra, já estou habituado. Aqui no Irão os conflitos passam ao lado do futebol. É um problema da política, não meu. Vivo sozinho numa vivenda com jardim atrás e à frente. Vivo numa cidade que foi massacrada pelo Saddam Hussein na guerra do Irão e Iraque. A cidade está rodeada de vestígios da guerra. Há casas com buracos das bombas, mas eu estou tranquilo», garante.

Desafiado pelo Maisfutebol a contar a experiência que o tenha mais marcado, Casimiro foi instantâneo na resposta: «Gabão, sem dúvida o Gabão. Se eu lhe contar nem vai acreditar. Quando treinei lá eu era a única pessoa branca no meio de milhares de pessoas. Aquilo era uma selva. Eu estava num hotel de cinco estrelas e perto de mim tinha crocodilos e macacos. Nem podia sair, só fazia o trajecto estádio-hotel. Depois tivemos que ir jogar à fronteira dos Camarões e foi horrível, nunca mais me esqueço. O avião só tinha 18 lugares e tivemos que aterrar numa pista de areia e empatamos o jogo. Eles tinham que ganhar e no final do jogo ameaçaram-nos com armas de fogo e tivemos que chamar o exército. Foi sem dúvida uma maratona para empatar um jogo, mas poderíamos ter perdido a vida», vincou.

O treinador português aceitou falar ainda do seu futuro. Não sabe para onde vai, mas para Portugal não volta.

«Tive um convite de um clube português da Liga de Honra mas era tão irrisório que nem respondi. Agora vamos ver, nem sei se fico aqui ou se vou até à Índia. Tenho um convite, mas o futebol está pouco divulgado lá. O professor Neca está lá mas está num clube fraco. Eu se for para lá é para treinar o segundo classificado deste ano e posteriormente treinar a selecção da Índia, mas a Portugal não volto» concluiu.