A Académica tem no seu plantel um inveterado coleccionador de camisolas. Desde que tenham pertencido a atletas famosos (o requisito não se aplica apenas a futebolistas), tudo serve para NDoye emoldurar e colocar numa parede muito especial da sua casa no Senegal. A colecção começou há muitos anos e já integra vários exemplares, que o médio começou a recolher mal conseguiu colocar um pé fora do seu país natal e ter acesso a vários craques.
Um dos passatempos predilectos de NDoye, quando está de férias, é chamar os amigos de infância, aqueles que o conhecem desde os tempos em que arrasava no basquetebol, e mostrar-lhes as últimas aquisições, dizendo-lhes «lembram-se de quando jogávamos na rua e dizíamos que éramos o Maradona ou o Beckenbauer? Pois bem, vejam de quem é aquela camisola¿»
No próximo sábado, depois do jogo com o Benfica, o senegalês conta ter mais uma preciosidade para a sua colectânea, por sinal honrada pelo mítico número 10, usada por um jogador também ele em risco de se tornar uma lenda: Rui Costa. «Quero aquela camisola e vou pedir-lha sem hesitar. Mas compreendo se ele não puder dar-ma. É um jogador muito requisitado e poderá tê-la já prometida a alguém. Se assim for, paciência, vou ter de a comprar na loja», desabafa o médio ao Maisfutebol.
Já no caso de Lisandro Lopez, foi preciso seguir o goleador do F. C. Porto¿ até ao controlo antidoping, a seguir ao último jogo dos campeões nacionais em Coimbra, no mês passado. «Nem a vou lavar. Tenho medo que a máquina a estrague! [risos]» A de Quaresma também já está pedida a Ivanildo e Hélder Barbosa, que servirão de intermediários.
À semelhança de tantos miúdos que sonham um dia ser como os seus ídolos, NDoye venerava e, por sinal, ainda venera alguns ícones do desporto-rei, mas também do basquete, modalidade pela qual o seu coração balança - na sua colecção figuram equipamentos de basquetebolistas famosos, sobretudo da equipa que mais admira, os LA Lakers, casos de Kobe Bryant ou Karl Mallone.
A técnica para conseguir as peças da sua colecção passa sobretudo por pedir a colegas e amigos que as recolham. Nos Estados Unidos, para onde se desloca em períodos de lazer, assegura ter uma espécie de «dealer» e foi através de um colega do Génova que conseguiu a camisola de Inzaghi (AC Milan), estratégia repetida para ficar com a de Gerrard (Liverpool).
A vergonha de pedir a camisola a Sá Pinto
Quando vivia em África, numa altura em que João Pinto e Sá Pinto constituíam a dupla de ataque da Selecção Nacional, o jovem Ousmane era um particular apreciador das qualidades do temperamental avançado que trocou o Salgueiros pelo Sporting. Mas estava longe de adivinhar que um dia poderia enfrentá-lo dentro de campo.
A oportunidade chegou em 2005, já ao serviço do Penafiel, e isto depois de uma passagem curta pelo Estoril. Antes disso, em 2000, no Mali, quando foi eleito melhor jogador e se sagrou melhor marcador do torneio de esperanças, jura ter sido abordado por um empresário que lhe propôs vir jogar para o nosso país, ao qual respondeu: «Portugal? Onde é que isso fica?» Só depois de lhe dizerem que era onde jogava Sá Pinto conseguiria, a custo, situar-se.
Mas voltemos a esse dia 13 de Março de 2005, em pleno Estádio José Alvalade, quando NDoye teve, finalmente, o privilégio de conhecer um dos seus ídolos de infância. «Queria muito pedir-lhe a camisola e até pensei em fazê-lo antes de entrarmos no relvado, no túnel de acesso, mas estava já tão concentrado no jogo que não deu.»
O pior veio depois. «Quando jogo, não olho a adversários. E esta aparente qualidade pode tornar-se num defeito. Neste caso, foi o que aconteceu. Embrulhámo-nos durante o encontro, mais do que uma vez até e, no final, como devem calcular, não fui capaz de lhe pedir a dita camisola. Fiquei super envergonhado e pensei: ¿Sou mesmo estúpido!¿.» Além deste episódio, é preciso referir que o Penafiel venceu por 2-0 com o segundo golo a ser apontado justamente por NDoye.