Da última vez que esteve no Jamor a Académica construiu Abril. No regresso deu um passo em frente: construiu Maio. Ou pelo menos fez deste um mês histórico, percorrido com três vitórias que levaram a equipa da despromoção à Europa e, claro, à conquista da Taça. A segunda de uma longa vida.

O Sporting, esse, passou demasiado tempo na poltrona da sobranceria. Deixou a Briosa crescer e acreditar. Deixou-a até pintar o Jamor de negro, nas vozes de uma multidão sedenta de fazer as pazes com ela própria. Quando despertou para a urgência de inverter o jogo, era demasiado tarde.

Do outro lado já não estava um pequeno. Estava Académica: a Académica dos estudantes, das capas negras, de uma história centenária. A Académica demasiado grande para ser temerosa, submissa ou acanhada. Por isso foi Briosa: fez-se atrevida e ameaçou condenar o desfecho a qualquer momento.

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Liderada por um Adrien que defende e ataca, joga e faz jogar, um Adrien enfim que só num mundo de fantasia se pode imaginar sem lugar no Sporting, a equipa de Coimbra podia até ter matado o jogo bem cedo: por duas vezes Edinho ficou na cara de Rui Patrício e por duas vezes falhou o golo.

Nessa altura podia pensar-se que a final condenara-se a dar a curva: puro engano. Como gente dogmática, os estudantes não aceitaram o fatalismo. Mandaram nas bancadas e passaram força à equipa. A força que levou, por exemplo, Abdoulaye a ficar perto do golo: Schaars tirou em cima da linha.

A Académica continuava por isso viva no jogo e forte para aguentar a pressão que o Sporting colocou depois sobre a baliza de Ricardo. Sá Pinto jogou tudo, trocou Elias e Insúa por Izmailov e André Martins, mais tarde colocou também Jeffrén, até Onyewu passou a jogar como avançado centro.

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O Sporting pressionava, portanto. Van Wolfswinkel ficou duas vezes perto do golo, Schaars e Polga obrigaram Ricardo a boas defesas, Carrillo rematou ao lado, Jeffrén falhou na cara do golo. Os leões faziam tudo para corrigir a entrada em falso. Com a velocidade e a urgência que nunca tiveram.

Que não tinham tido, por exemplo, na primeira parte. Entraram no jogo aliás a perder, num lance em que Insúa deixou a bola passar para Marinho finalizar à boca da baliza. Depois disso continuaram como se não fosse nada com eles. Só por uma vez, aliás, criaram perigo: Van Wolfswinkel finalizou ao lado.

Adrien, Abdoulaye e Ricardo, nomes para a história

No cômputo geral, portanto, foi a confirmação de que esta Taça estava destinada à Académica. Ela que veio de Coimbra pela festa, disposta a recriar o espírito que construiu a revolução quando, muito perto do intervalo, em meia-dúzia de tarjas, foi ela própria: informada, reivindicativa, politizada.

No fim do jogo fez a festa, claro. Levantou o troféu e levou-o para casa, lá onde mora a primeira Taça do futebol nacional. A temporada fecha-se assim coberta de negro, num mês de maio que não fica para história de Portugal mas fica para a história de um clube que ajudou a construir Portugal.