[Já pensou em adotar o 4-4-2?] Foi o que fiz no jogo, com a entrada do Licá, que nos trouxe essa nova estrutura. Quando ainda faltavam penso que 20 minutos, lançámos o Carlos Eduardo, jogámos só com três defesas, tentamos tudo o que era possível, mas a verdade é que não funcionou, porque o resultado assim o diz.

É um facto: não funcionou. Nada no FC Porto funcionou em Coimbra, como confirma o resultado (derrota por 1-0) e a resposta de Paulo Fonseca no final do jogo com a Académica.

Se o técnico dos dragões tinha dito dois dias antes que não abdicava das suas ideias, como quem diz que tem um modelo de jogo que pretende seguir, o desafio de sábado à noite só trouxe mais confusão à equação. Uma confusão tática adensada pela desvantagem no marcador e a falta de soluções dentro de campo, que poderá ser agravada já no próximo fim-de-semana, com o Sp. Braga, dada a ausência de Fernando (castigado por ter preenchido uma série de cinco cartões amarelos).

A surpresa surgiu logo no onze inicial, com Quintero a aparecer no lado esquerdo do ataque, enquanto Josué era o eleito para alinhar ao lado de Fernando no duplo pivô formado no meio-campo atrás de Lucho González.



Enquanto Quintero esteve em campo o FC Porto só teve um extremo (Varela), simplesmente porque o colombiano variava demasiadas vezes para o miolo e sem qualquer influência positiva no jogo. Foram raros os cruzamentos vindos do flanco esquerdo.

A bola percorria os espaços ocupados por Josué, que atuou sempre muito recuado, ao lado de Fernando, e vendo-se obrigado a ter de percorrer trinta metros para chegar a uma zona mais confortável para servir Jackson. É certo que o início da construção de jogo era feita por Josué, mas raramente conseguiu encontrar situações para fazer o último passe, uma das suas principais qualidades. Por outro lado, Sérgio Conceição soube preparar a tática para ocupar bem os espaços a meio-campo, com Fernando Alexandre (o melhor) simplesmente intransponível e coadjuvado por Cleyton e Makelele.

Lento, o FC Porto não fez uma única transição rápida para o ataque, emperrando na falta de definição de Varela e na existência de um extremo à esquerda. No meio-campo, demasiado espaço entre Fernando/Varela e Lucho.

Aos 30 minutos Paulo Fonseca decide trocar Varela para a esquerda e Quintero para a direita, mas nada mudou. A Académica foi sempre mais rápida na construção de jogo, enquanto que do outro lado faltavamm referências e não havia um fio condutor. Com Lucho completamente anulado por Fernando Alexandre, Quintero a tropeçar em Lucho e Josué demasiado longe da zona de definição ofensiva, o FC Porto mantinha-se ineficaz.

A Académica chega ao intervalo com um golo de vantagem, fruto de um erro de Alex Sandro, que falha a marcação a Marcelo e este tenta o chapéu a Hélton, mas Mangala atira para canto perante uma baliza deserta. No lance seguinte é a vez de Fernando falhar ao segundo poste e Fernando Alexandre aponta o golo solitário. O maior castigo para os dragões chegava momentos antes de Paulo Fonseca conversar com os jogadores no balneário.

O treinador opta por manter a estratégia no arranque da segunda parte, enviando Quintero novamente para a esquerda do ataque. Josué parece estar um pouco mais adiantado no terreno e logo aos 48 minutos assiste Jackson, que cabeceia à barra. Apenas fogo de vista, dado que o médio volta a recuar para junto de Fernando e fica demasiado longe de poder voltar a servir o ponta-de-lança com eficácia.

Paulo Fonseca percebe que é preciso abanar no jogo e aos 56 minutos decide fazer a primeira grande alteração tática, colocando Licá no lugar de Quintero e fazendo alinhar o português ao lado de Jackson. O FC Porto caminhava para um 4x4x2 (na maior parte das vezes 4x1x3x2).



Cinco minutos depois surge o resultado desta mexida, mas os portistas voltam a não conseguir marcar. O tal lance que vai direito para o anedotário dos lances mais caricatos do ano, com Fernando Alexandre a desviar um remate de Varela para o poste e Mangala a atirar por cima da baliza quando já estava na grande área.



O FC Porto continuava a perder apesar de enviar duas bolas aos ferros das balizas de Ricardo e continuava a criar oportunidades. Aos 68 minutos era a vez de Jackson servir Licá, que à entrada da pequena área cabeceia por cima da baliza. A torrente ofensiva dos dragões obrigava Fernando Alexandre a recuar para junto dos centrais e a Académica sobrevivia.

A quinze minutos do fim do jogo, Paulo Fonseca decide inovar uma vez mais, transformando o até agora proscrito Carlos Eduardo em estratega da equipa, enquanto transformava o sistema num 3x5x2.



Há muito tempo que não se via o FC Porto a jogar com três defesas e mesmo assim também não resolveu absolutamente nada. Sérgio Conceição nunca abdicou do seu sistema, manteve três jogadores no ataque e foi dando instruções de posicionamento no meio-campo. Aos 83 minutos os dragões têm mais uma soberana oportunidade para empatar, mas Ricardo defende o penalty apontado por Danilo.

Paulo Fonseca tinha motivos de sobra para cobrir a face com as mãos. A equipa voltou a cometer um erro defensivo no golo do adversário, enviou duas bolas aos ferros e desperdiçou uma grande penalidade. Atacou 30 vezes, rematou 14, teve oito cantos e 62% de posse de bola. Começou em 4x3x3, mudou para 4x4x2 e terminou em 3x5x2. Nada funcionou e o FC Porto perdeu a liderança para os dois principais rivais.

A enorme confusão tática só serviu para adensar a dúvida sobre o trabalho que Paulo Fonseca está a fazer no Dragão. Do 4x3x3 tradicional ao quase inédito 3x5x2 (que chegou a ser usado por Co Adriaanse) poucas ideias positivas sobressaem. No próximo sábado um novo teste, com o Sp. Braga, e a dificuldade de ter de substituir o castigado Fernando, o que antevê nova alteração tática.