No Estádio Universitário, em Lisboa, o desporto deu lugar à emergência. O espaço vizinho do Hospital de Santa Maria foi adaptado para servir de retaguarda aos serviços de saúde, com capacidade para 500 camas, instaladas em três pavilhões e numa tenda construída num dos relvados do complexo. Em Ovar, concelho que está há duas semanas em quarentena por ter sido particularmente afetado pelo surto de covid-18, a Arena, o pavilhão onde ainda no início do mês a Ovarense recebeu o Benfica para o campeonato nacional de basquetebol, vai dar lugar também a serviços de apoio médico. Imagens com enorme impacto, a de palcos tão familiares ocupados agora por longas filas de camas, material hospitalar e mesmo caixões. É assim por todo o mundo, como mostram as imagens na galeria de fotos associada a este artigo. Um campo de futebol ou um pavilhão podem ser muito mais do que espaços esvaziados de sentido por estes dias.

Estádio Universitário, em Lisboa

No desporto tem havido muitos exemplos de solidariedade na resposta à pandemia do novo coronavírus, com ofertas generosas e campanhas de angariações de fundos, e essa boa vontade tem-se estendido aos próprios recintos desportivos. Várias entidades e instituições puseram à disposição os seus estádios ou pavilhões, grandes espaços esvaziados de sentido por esta altura, com o desporto paralisado, e que podem ser muito úteis na resposta à crise, seja convertidos em hospitais de campanha, locais de armazenamento ou clínicas improvisadas para serviços não urgentes, que permitam desanuviar os hospitais, focados no combate à covid-19. Por cá, FC Porto e Sporting também disponibilizaram os seus pavilhões. No Porto, o Pavilhão Rosa Mota vai ser adaptado a unidade de cuidados, tal como a Pousada da Juventude, com capacidade conjunta para 300 camas. Em Torres Vedras o pavilhão do Sporting Clube de Torres foi adaptado a hospital de campanha, nas Caldas da Rainha o Pavilhão da Mata foi transformado para espaço de isolamento de doentes infetados pelo vírus. A sul foram instalados centros de despistagem junto ao Estádio do Algarve e na Portimão Arena e em Leiria a autarquia pretende também promover um centro de diagnóstico móvel no Estádio de Leiria. Em Tondela, o pavilhão municipal será utilizado para armazenamento de material.

Palácio do Gelo de Madrid é morgue temporária

Em Espanha, a transformação do Palácio do Gelo de Madrid em morgue temporária dá a medida da tragédia. Já está a ser utilizado como depósito temporários das urnas de vítimas da doença. «Uma medida temporária e extraordinária que pretende, fundamentalmente, mitigar a dor dos familiares e das vítimas e a situação que se regista nos hospitais madrilenos», explicaram responsáveis do governo regional citados pelo El País.

Os recintos desportivos, com todo o espaço de que dispõem, podem ser úteis para apoio em várias áreas. O Real Madrid, por exemplo, disponibilizou o Estádio Santiago Bernabéu para armazenamento de material médico.

Em Inglaterra o Manchester City também colocou o Estádio Etihad à disposição do Serviço Nacional de Saúde britânico e o recinto poderá ser usado para formação de pessoal de saúde. Em Gales, o Estádio Millenium vai ser também convertido em hospital de campanha. Outro exemplo o do Plymouth, clube da League Two, que tem já instalado no interior do estádio um serviço de recolha de sangue e outros serviços médicos para ajudar a desanuviar os hospitais. E outro ainda o do Chelsea, que ofereceu o hotel junto a Stamford Bridge para alojamento de profissionais de saúde.

Do Maracanã ao Centenário do Montevideo

Estádio Pacaembu, em São Paulo

Nos Estados Unidos também há vários recintos desportivos adaptados, no interior ou no exterior, à resposta sanitária: do Hard Rock Stadium, na Florida, casa dos Miami Dolphins, que tem agora um centro de despiste no parque de estacionamento, a ginásios, pavilhões ou campos de futebol de formação.

No Brasil, o mítico Estádio do Maracanã será convertido em hospital de campanha, ainda em moldes a definir mas com a perspetiva de ser utilizado todo o complexo. Já quase pronto a funcionar está o hospital de retaguarda preparado noutro estádio de referência, o Pacaembu, em São Paulo, uma estrutura com capacidade para 200 camas.

Marcante também a nova finalidade que ganhou o Estádio Centenário, no Uruguai, o palco do primeiro Campeonato do Mundo de futebol. No interior de uma das bancadas existe um espaço que funciona como centro de estágio e já recebeu a seleção uruguaia, que foi transformado por estes dias em residência temporária de dezenas de pessoas sem-abrigo, particularmente vulneráveis nestes tempos.