Sebastien Loeb estava a 5s da liderança do Rali de França. Pela frente, as últimas especiais de domingo. As últimas da carreira nos Ralis. Logo na primeira, um erro de cálculo leva o seu Citroen à valeta, capotado. Era o fim da linha no WRC e o ponto final na carreira do maior campeão de sempre.

Um adeus que durou mais de um ano, no fundo.

A 27 de setembro de 2012, a notícia tinha chegado como uma bomba. Trazia a chancela da Citroen e não deixava dúvidas: «Depois de oito -em breve, possivelmente, nove- títulos mundiais consecutivos, Sébastien Loeb e [o co-piloto] Daniel Elena não vão defender o título em 2013.”

Loeb já era recordista com oito títulos, chegou mesmo aos nove e disse que não queria mais. Para 2013 organizou uma agenda mais eclética.

Tem feito equipa com o português Álvaro Parente no campeonato FIA GT, passou pela Porsche Super Cup, pelo Rallycross, bateu o recorde de Pikes Peak e ainda teve tempo para quatro Ralis no WRC. Ganhou dois, em Monte Carlo e na Argentina. Despediu-se este domingo, na sua França natal, aos 39 anos.

É o fecho de um ciclo no WRC, que começou em 2004, quando ganhou o primeiro dos nove títulos seguidos. O sucessor tem...o mesmo nome. Sebastien. Este, conduto, tem apelido Ogier, conduz um Volkswagen, mas também já é campeão. E tem muito caminho pela frente para fazer sombra ao, agora, ex-rival.

Recordes, recordes, recordes...

A aventura de Sebastien Loeb tem um ponto de partida pouco comum: a ginástica. Na adolescência, o francês foi um ginasta aplicado, antes de perceber que não queria ser flexível. Queria era ser rápido. E apostou nos carros.

Ao seu lado a Citroen. A equipa preparava o ingresso no Mundial de Ralis em 2003 e Loeb era aposta para chegar ao sucesso. Um jovem a quem todos gabavam o enorme potencial. Precisava de ser confirmado e não tardou a fazê-lo.

2002 foi o ano zero. Uma espécie de tubo de ensaio para o que a marca queria que fosse a época seguinte. Loeb fez sete Ralis e ganhou um, na Alemanha. A primeira vitória no WRC.

No ano seguinte, em Monte Carlo, Loeb começou a mostrar que a Citroen era para levar a sério. Mais do que isso: que ele próprio era para levar bem a sério. Ganhou pela primeira vez ali. Seriam mais seis, em oito presenças. Era uma segunda casa, no fundo.

Mas o título fugiu para Petter Solberg, por um ponto. No último Rali, na Grã-Bretanha, o norueguês foi primeiro, Loeb foi segundo e o a festa foi do outro. Pela última vez.

A partir de 2004 nasce, então, a lenda. E os recordes começam a cair.

Em 2005 vence seis Ralis seguidos, batendo a anterior máxima de Timo Salonen, em 1985. Histórico. Em 2008 vence 11 Ralis em 15. Histórico, também. Em 2010, beneficiando da alteração no sistema de pontuação, esmaga todos os números: 276 pontos! Histórico, pois claro.

Mas não fica por aqui. É o piloto que ganhou mais Ralis na história do WRC, com 78. O segundo, Marcus Gronholm, venceu..30. Menos de metade, portanto. E mesmo em especiais também encabeça a lista: venceu 896, mais 95 do que Markku Alen.

Também tem mais pódios (116) e pontos (1619). Nas estatísticas principais da história do Mundial de Ralis, de facto, só não lidera uma: o número de abandonos...

O sonho impossível da Fórmula 1

Quase todos os anos há uma história de Loeb para contar. Seja porque bateu um novo recorde, porque mostrou a cabal diferença para os demais ou, até, porque deixou de correr. Foi assim em 2006, por exemplo.

Sofreu uma fratura no úmero durante uma prova de BTT e falhou as últimas quatro provas da época. Mesmo não somando qualquer ponto foi campeão. A vantagem era enorme...

Em 2011, na Jordânia, ganhou o Rali a Jari-Matti Latvala por 0.2s! É, ainda hoje, a diferença mais curta de sempre. Mas Loeb não tremeu: estava seguro.

Essa segurança era, de resto, a imagem de marca do francês, que construiu o maior palmarés de sempre no desporto automóvel. Nem Michael Schumacher foi tantas vezes campeão. Mas o que é demais também pode chatear. E Loeb sentiu-se farto. Anunciou o adeus e partiu para outra.

Os rumores de que tinha o sonho de entrar na Fórmula 1 sempre o perseguiram. Chegou a estar perto de pilotar um Toro Rosso, depois de impressionar nuns testes com a Red Bull, mas não conseguiu a necessária licença. E colocou uma pedra no assunto.

O futuro, porém, está mesmo nas pistas. Para o ano estará no Mundial de Turismos (WTCC), onde compete o português Tiago Monteiro, por exemplo. Sempre ao lado da Citroen. E é bom que não o desvalorizem.

O acidente que marcou a sua despedida dos Ralis não é, por isso, um final triste para um legado de sonho. É uma assinatura. Uma espécie de dedicatória para os milhares de seguidores.

Se chegou a hora da despedida, Loeb tinha de o fazer com impacto.