Pinto da Costa lançou a discussão em janeiro de 2012. O presidente do FC Porto considerou que Radamel Falcao deu um passo atrás na carreira ao caminhar para o Atlético de Madrid. No dia em que os dragões visitam o Vicente Calderón, fazemos um balanço.

Afinal, valeu a pena? «Disse-lhe que ia dar um passo atrás na carreira. Disse-lhe que ia sentir falta dos centros do Alvaro [Pereira] e das arrancadas do Hulk numa equipa que não ganha nada.»

«O Falcao optou pelo dinheiro em detrimento do sucesso desportivo. Se lhe pagam o que prometeram, não tem de ficar arrependido», disse na altura o presidente do FC Porto.

O colombiano respondeu à medida. «Ele está no direito de pensar o que quiser, mas para mim era um objetivo, um desafio e um sonho vir para o Atlético de Madrid. É um clube com um projeto interessante e o tempo o dirá.»

«Há uma coisa que está muito clara: os títulos são sempre bonitos, não se pode negar. Para os jogadores significa muitíssimo, mas o quarto e o terceiro lugar numa Liga como a espanhola também são muito bons», acrescentou El Tigre, hoje jogador do AS Mónaco.

A dúvida de Paulo Futre era outra

Radamel Falcao rumou ao Atlético em 2011 mas não foi o primeiro. Paulo Futre desbravou caminho em 1987 e, nessa altura, foi acompanhado pelo presidente do FC Porto.

El portugués conquistara a Europa com a camisola azul e branca. Após três épocas de dragão ao peito, tinha Real Madrid, Barcelona e Inter de Milão no seu encalço. Porém, deixou-se seduzir por um candidato à presidência do Atlético de Madrid.

Pinto da Costa e Paulo Futre aceitaram a proposta exorbitante de Gil y Gil. A equipa terminara a época na sétima posição. As dúvidas do extremo, ainda assim, centravam-se na ligação a um mero candidato. Surgiu então a lenda do Porsche Amarelo, explicada de forma incomparável pelo antigo jogador.

No Atlético, Paulo Futre venceu apenas duas Taças do Rei entre 1987 e 1993. De qualquer forma, tornou-se um ídolo para os adeptos. Ainda hoje, encontram-se em Madrid várias camisolas do jogador português à venda.


O litígio em torno de Paulo Assunção

Os anos passaram e Jorge Nuno Pinto da Costa manteve uma ligação cordial com Jesús Gil y Gil. O dirigente espanhol faleceu em 2004, já com Enrique Cerezo na presidência do clube.

Enrique Cerezo, vice-presidente no legado de Gil y Gil, assumiu o cargo máximo no Atlético de Madrid. Sob o seu comando, o clube virou-se para o mercado português e apostou em vários jogadores do nosso futebol.

Paulo Assunção protagonizou o caso mais polémico em 2008. O médio brasileiro rescindiu com os dragões a um ano do final do contrato, ao abrigo da famosa Lei Webster. Mais tarde, garantiu ter sido seriamente ameaçado por adeptos do FC Porto.

O clube portista avançou para um corte de relações institucionais com o Atlético de Madrid, próximo destino de Assunção. A questão ficou resolvida com uma indemnização de 3,5 milhões de euros, acordada de forma amigável entre os clubes, após meses de negociações e perante a possibilidade de recurso a instâncias jurídicas.

Paulo Assunção trocara o campeão de Portugal pelo quarto classificado da Liga espanhola. Começava então o debate entre os adeptos portistas: valeria a pena? Seria um passo em frente, para o lado ou para trás?

«Às vezes, quando estamos muito tempo num clube, temos de mudar. Ganhei muitos títulos no FC Porto, fui muito feliz em Portugal e sabia que era uma troca complicada porque nessa altura o Atlético até não ganhava», recorda o médio, em conversa com o Maisfutebol.

Com 33 anos, Paulo Assunção mora atualmente em Madrid. «Não me arrependo de ter vindo para Madrid. Olhando para trás, lembro que o Atlético acabou por ganhar títulos nos anos seguintes. E, hoje em dia, sou feliz em Madrid com a minha família», garante.

Eis os números: em Portugal, Paulo Assunção foi tricampeão, venceu duas Taças de Portugal e uma Supertaça nacional; em Espanha, entre 2008 e 2012, não conquistou títulos nacionais mas venceu por duas vezes a Liga Europa e ainda a Supertaça Europeia. Curiosamente, o FC Porto também venceu uma Liga Europa nesse período.


Falcao e onze milhõs por pagar

Radamel Falcao e Ruben Micael fizeram a ponte em 2011. Na ressaca da glória europeia, o FC Porto perdia André Villas-Boas e via o seu goleador manifestar o desejo de sair. Os dragões cedem e transferem o colombiano, a par do médio português, para o Atlético de Madrid.

45 milhões de euros. Um encaixe significativo para o clube portista. Ainda assim, a saúde financeira do Atlético foi colocada em causa nesse período. Continua a ser, aliás. Já com Falcao no Mónaco, a dívida continua por saldar.

De acordo com o último Relatório e Contas, o Atlético de Madrid devia, a 30 de setembro de 2013, onze milhões de euros pelas transferência dos dois jogadores.

Ruben Micael nunca vestiu a camisola dos colchoneros. Foi cedido ao Saragoça e regressou a Portugal para representar o Sp. Braga. Radamel Falcao, em dois anos, venceu uma Taça do Rei, a Liga Europa e a Supertaça Europeia pelo Atlético. Provou o seu valor em Espanha.

Neste verão, porém, mais um passo duvidoso: o colombiano aceitou o convite aliciante do AS Mónaco, numa altura em que se esperava a sua transferência para um emblema com maior projeção.

Seria mais uma acha para a fogueira iniciada por Pinto da Costa? Nem tanto. É curioso verificar o que o presidente do FC Porto disse em janeiro de 2012, quando criticou Falcao.

«Tenho a certeza que o Hulk ou o João Moutinho nunca aceitariam, por dinheiro algum, ir para o Atlético. São uns campeões». Hulk foi para o Zenit de S. Petersburgo e João Moutiinho é, atualmente, companheiro de equipa de El Tigre no Mónaco.


Cristian Rodriguez foi o último

A mudança de Cristian Rodriguez, no defeso de 2012, não gerou polémica entre as partes. O uruguaio estava em final de contrato com o FC Porto, tinha um salário avultado e um rendimento oscilante.

Durante um treino, em março, Rodriguez desentendeu-se com João Moutinho e foi afastado do plantel. Nessa altura, a saída parecia um cenário irreversível. Uma vez mais, o Atlético de Madrid abriu a porta.

O Cebola passou a ser utilizado com regularidade em Espanha, venceu uma Supertaça Europeia e a Taça do Rei. Em outubro, regressou à Invicta.

«Foi um regresso estranho. Foi uma vitória muito boa mas estou um pouco triste. Naturalmente feliz pelo Atlético de Madrid, mas triste porque o FC Porto é uma família para mim», disse Cristian Rodriguez em Portugal, após o jogo da Liga dos Campeões.

O balanço pode ser afetado pelo momento atual das duas equipas, mas ficam os dados para a análise: afinal, valeu a pena trocar o Dragão pelo Vicente Calderón?