Há muitas decisões à vista esta quarta-feira, quando se completa a quarta jornada da qualificação para a Taça das Nações Africanas (CAN). Entre as equipas que podem festejar desde já o apuramento está o Gabão, orientado por Jorge Costa. Além da Argélia de Slimani e Brahimi, ou os Camarões de Aboubakar. Todos na rota da fase final da CAN, que está marcada para Marrocos, no início de 2015. Sob o fantasma do Ébola e do risco de propagação do vírus no continente.

Entre as seleções com o apuramento à vista a duas jornadas do fim o caso mais notável é o do Gabão. Duas vitórias e um empate nos únicos jogos oficiais do treinador português no banco colocaram a equipa em excelente posição. A vitória do fim de semana na receção ao Burkina Faso, com dois golos de Pierre-Emerick Aubameyang, o avançado do Borussia Dortmund que é a óbvia estrela do Gabão, deixou a qualificação à mão de semear. Pode ser já, se o Gabão ganhar na visita ao Burkina.

Nomeado em julho, depois de ter deixado o Paços de Ferreira, Jorge Costa estreou-se na fase de grupos a 6 de setembro, com uma vitória sobre Angola (1-0). Seguiu-se um empate na visita ao Lesotho (1-1) e agora a vitória sobre o Burkina Faso (2-0). O apuramento à quarta jornada seria uma proeza para o Gabão, ainda que Jorge Costa tenha assumido o cargo com um objetivo mais ambicioso, o de qualificar a equipa para o Mundial 2018.

Há mais seleções com apuramento à vista já nesta ronda, incluindo Argélia, Camarões e África do Sul. Além da Costa do Marfim e da Tunísia ou Senegal, estas em confronto direto. Também há favoritos em apuros. A começar pela Nigéria, campeã em título, e passando pelo Egito, a seleção que mais vezes venceu a CAN.

Com apenas um ponto, em último lugar no seu grupo, a Nigéria atravessa uma fase negra, que o selecionador Stephen Keshi parece incapaz de superar. O treinador diz que há quem conspire contra o sucesso da equipa. «Há pessoas a sabotar-nos. Querem mandar esta equipa abaixo», acusa Keshi, citado pela AFP.

Quanto ao Egito, sofreu duas derrotas a abrir, mas depois da vitória sobre o Botswana, novo resultado positivo frente ao mesmo adversário pode colocar a equipa na rota certa.

Destaque ainda na ronda desta quarta-feira para novo duelo lusófono entre Moçambique e Cabo Verde. A jogar em casa, na Cidade da Praia, a equipa orientada por Rui Águas espera reforçar a liderança, comprometida depois da derrota em Maputo (0-2) no sábado passado, dando também um passo firme rumo ao apuramento.

A qualificação está a jogar-se num cenário sanitário que é ainda uma incógnita, face ao surto do vírus do Ébola em alguns países da África Ocidental, que já matou mais de quatro mil pessoas desde o início do ano. A nível desportivo o Ébola já levou à desqualificação de uma seleção: ainda na fase preliminar, as Seychelles recusaram a entrada da Serra Leoa e foram eliminadas na secretaria. 

Serra Leoa, tratados «como lixo»  

Para a fase de grupos, a CAF decidiu que a Serra Leoa e a Guiné-Conacri, dois dos países mais afetados pelo vírus (a par da Libéria, já eliminada), deveriam jogar as suas partidas domésticas longe de casa. Um estigma para as duas seleções, tornadas apátridas. Com momentos duros vividos pelos jogadores.

A Serra Leoa acabou por realizar os dois jogos com os Camarões, da terceira e quarta jornadas, em território adversário. E a passagem por Yaoundé está a ser difícil. Em campo os jogadores são perseguidos por gritos de «Ebola», vindos da bancada, em jeito de provocação. Uma reportagem do New York Times conta como acabaram por ter de trocar de hotel em Yaoundé, para um estabelecimento onde são os únicos hóspedes, e como lhes é medida a temperatura corporal mais que uma vez por dia.

Na verdade, nenhum dos jogadores da seleção joga na Serra Leoa, nem tem estado no país. «Sentimo-nos humilhados, como lixo, dá vontade de bater em alguém», diz John Trye, guarda-redes suplente da Serra Leoa, citado pelo New York Times. «Ninguém quer ter Ébola no seu país. A Serra Leoa está a lutar, e esfregam-nos isto na cara.»

Dizem também os jogadores da Serra Leoa que foi pior nas visitas ao Congo e à Costa do Marfim. Aqui, relatam, os jogadores adversários recusaram apertar-lhes as mãos no final.

É neste cenário que está marcada a fase final da CAN, em Marrocos, de 17 de janeiro a 8 de fevereiro de 2015. A organização marroquina já pediu à Confederação africana um adiamento da prova, perante os riscos da propagação do Ébola, mas até agora a posição oficial da CAF é de que não haverá qualquer mudança de datas.

«A CAF tem sido muito cuidadosa desde o início da fase de grupos em relação aos riscos de saúde colocados pelo vírus do Ebola e aplicou medidas de precaução, tendo em conta as recomendações da Organização Mundial de Saúde e vários peritos médicos», diz o comunicado.

De qualquer modo, o organismo acabou por deixar o assunto em aberto, ao revelar que o tema será abordado na sua próxima reunião do Comité Executivo, a 2 de novembro.

Se quiser saber mais sobre o vírus do Ébola, leia aqui.